NUNCA FOI INCONDICIONAL
Depois que
passarem a insegurança, o ciúme
e esse teu ominoso sentimento
de possessividade
por mim;
depois que
parares de me chover
com teu afiado verbo volátil
por qualquer motivo;
depois que
se acalmarem em ti
o ego e a soberbia incontrolados,
e perceberes que sempre fui sujeito
às pedras e às falésias
do caminho
– e te perceberes também
humana, com a mesma condição
e riscos imanentes –;
depois que compreenderes
que, enquanto dizias me amar,
escorrendo-me, paradoxalmente,
teus ódios e tuas eivas,
estive, por todo o tempo,
a ouvir e a compartilhar teus problemas,
omitindo-te meus próprios percalços e dores
para não te sobrecarregar
em tuas lutas;
depois, enfim,
que eu não mais resistir
e me estiver passado, sempiternamente,
em morte por asfixia
de minhas asas;
a quem irás culpar
para te esqueceres de tuas falhas e quedas,
em vez de lutares, com todo vigor,
pela única sublimidade válida
nesta vida:
amar e se doar,
entendendo a fragilidade do ser
e seus avessos reflexos.