UM AMOR PURO LXXIV
… nenhuma palavra
lava a merda já despejada
na estrada,
nenhum silêncio,
por mais profundo, lava as luzes
impostas de outros
lugares;
são pedras
que ficam e sombras
que se estabelecem à frágil
alma:
e o pior de tudo
é pensar que um novo dia
sempre amanhece muito diferente
na mão de outro artífice
de palavras;
amar
exige mortes, enterros do que
supostamente possa
brilhar
– como um milagre a nunca
se realizar –
do ser
que é ser, e não o pode
por outros estar:
amar,
como dizia Bukoski, é se preparer
para, às delícias do mundo,
morrer.