UM AMOR PURO XLII
... acordo-me,
o pé esquerdo falha,
logo ele com quem tanto me acostumei
ao primeiro pisar do dia;
às vezes,
ainda sinto um tesão
de urina desgraçado, que me prende
mais alguns minutos no banheiro
até que se passe;
a tinta da aquarela
vermelha não está em casa,
usaram-na para pintar outros jardins
por aí;
coloco uma música,
mudo, outra, e outra e vou mudando,
e todas rentratam a mesma
coisa:
meus medos,
minhas solidões,
minhas passadas combustões,
meus amores naufragados;
cansado
tento subir as escadas,
para chorar em meus poemas retardados,
lá fora, ainda caem cinzas
molhadas.