PÁSSARO FERIDO
Como um pássaro em uma enorme revoada você me viu. Cingi-me com as cores da esperança e voei todos os dias com o coração de adolescente para voltar a te ver. Voei muito alto, além do que é permitido aos da minha espécie voar e voei para buscar estrelas e te dar. Voei acima das nuvens e desenhei, com meu rastro no ar rarefeito, seu sorriso e o contorno dos seus olhos. Eu te amei mais que já pude amar em toda a minha vida, compus as mais belas canções em nome da esperança de ter você para mim. Cantei debaixo de sua janela, pousado em sua mão, apreciando sua efêmera beleza, deliciando-me do néctar saciativo dos seus beijos, eu acreditei em nós.
Mas, pássaros diferentes não podem voar juntos e tão alto. Perdi meu ponto de contato com a realidade e cai, você não viu? Eu machuquei a minha asa quando suas palavras me atingiram, meu peito quase estourou de tristeza quando percebi que seu coração não batia mais por mim. Das alturas do meu sonho enlouquecido, cai.
Sou pássaro ferido. Com a lente das minhas retinas inebriadas, ofuscadas por lágrimas brilhantes que rolam do meu pranto, atingi o solo, e quase morri de dor na falta do seu amor, da sua atenção. Estou ferido e o perigo se aproxima, sinto minha vida passando como um flash de muitos anos numa sequência de fatos que fizeram com que eu me apaixonasse, depois, te amasse, me enlouquecesse de amor, ao ponto de alçar o vôo mais audacioso da minha débil existência. Eu sou um pássaro ferido precisando do alento de sua asa protetora, meu canto rouco está emudecido, minhas asas perderam o viço da cor, minha alma está quebrada, pois sou pássaro com a asa pendida ante a dor da saudade que sinto de você.
Já não consigo lutar contra a minha razão, não consigo mais fugir. Precioso é o vôo em sua direção. Sôfrego, vou batendo as asas, voando, pairando, na esperança de te encontrar encontrar.