UM CORAÇÃO PURO XXVI
... então, aos 32,
mais ou menos por aí,
ele se pôs a frequentar, como quem vai
a um baile, a uma
sala,
logo ele que,
em si, desde pequeno, havia
construído fortes
muralhas
para enfrentar
algumas pedrinhas de cascalho
que lhe picavam os pés
quando andava;
logo ele
que costumava fazer, escondidamente,
mundo em que salvava e amava
algum anjo que o esperava;
e então,
lhe vieram melodias e palavras,
e primeiro ele creu e quis
viver infinitos
rasgando folhas
e orvalhos;
de anos depois,
aos 46, já está todo arregaçado,
sem seus esconderijos pueris,
sem seus anjos só seus,
sem suas vitórias vivas de luz;
então ele,
que tanto já havia chorado
com um anjo que lhe aparecera
em tempos de outrora,
novamente chorou,
(mas sem que ela soubesse)
junto à primeira flor, e teve febre
de corpo e alma;
e amargamente
chorou, delirante e gravemente enfermo
por tudo que que fez, por tudo
que lhe houve
e por tudo
que, no breve tempo que lhe resta,
não pode mais haver.