UM CORAÇÃO PURO XXVI

... então, aos 32,
mais ou menos por aí,
ele se pôs a frequentar, como quem vai
a um baile, a uma
sala,

logo ele que,
em si, desde pequeno, havia
construído fortes
muralhas

para enfrentar
algumas pedrinhas de cascalho
que lhe picavam os pés
quando andava;

logo ele
que costumava fazer, escondidamente,
mundo em que salvava e amava
algum anjo que o esperava;

e então,
lhe vieram melodias e palavras,
e primeiro ele creu e quis
viver infinitos

rasgando folhas
e orvalhos;

de anos depois,
aos 46, já está todo arregaçado,

sem seus esconderijos pueris,
sem seus anjos só seus,
sem suas vitórias vivas de luz;

então ele,
que tanto já havia chorado
com um anjo que lhe aparecera
em tempos de outrora,

novamente chorou,
(mas sem que ela soubesse)
junto à primeira flor, e teve febre
de corpo e alma;

e amargamente
chorou, delirante e gravemente enfermo
por tudo que que fez, por tudo
que lhe houve

e por tudo
que, no breve tempo que lhe resta,
não pode mais haver.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 30/03/2016
Reeditado em 30/03/2016
Código do texto: T5589759
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