Platonismos passados
Há tempos atrás escutava bem mais que o vento,
via através dos vidros das janelas prismas de almas,
enxergava coloridos no cinza concreto das cidades,
sentia minha pulsação acelerar apenas com um perfume,
sentia minha vida passar diante de mim como num filme,
clichês de novelas ou romances de bolso em bancas de jornal,
ficava esperando na esquina até vê-la sair,
acompanhava-a no percurso do metrô,
um anjo invisível observando cada gesto,
apaixonado por cada detalhe de movimento,
até sua estação chegar e minha escolta terminar,
meu rosto contra o vidro da janela observando-a partir...
Há tempos atrás era capaz de pintar seu rosto de memória,
lembrava cada contorno, cada curva, cada linha de expressão,
em cada pincelada um pedaço de mim se revelava,
cada emoção, cada sensação, meus sentimentos expostos,
sabia que talvez nada daquilo fizesse sentido para outrém,
mas em mim, cada traço, cada passo daquela jornada era real,
não importa que jamais tivéssemos trocado qualquer palavra,
no meu silêncio e nos seus sorrisos admirados à distância,
uma ponte invisível unia desejos ocultos em uma sinergia,
uma melodia embalando uma história de amor não realizada,
um trova esquecida nos rascunhos não publicados de um escritor,
minha esperança de algum dia ela se voltar para meus olhos...