Os indignos do amor
O peito segue travesso
Como segue descontente este flertar
Com a aurora, com os pássaros, com os cantos,
Sempre a imaginá-los com beijos.
Todos os romances que o cupido flecha
Tonam-se mais sofríveis, verdadeiros, indigestos,
Costumam não serem permitidos
E a pena que sofrem é a do amor vil, infame.
São os indignos do amor
Que são cantados pelas aves e coroados pelo amanhecer
Varam pelas ruas embebedados de dor e de luar.
Os abjetos do amor, os reles, os terrificados,
Qual lugar seria o esconderijo se o planeta não basta
Qual espaço podem ocupar se não o de um coração?
Amantes desavisados do peso das paixões
Que essas sejam a inspiração da existência
E que cada gota de sangue e suor que abrasam o ser
Tragam o brilho que incendeia a alma, a atormenta e a faz dormir
Como se fosse filha de alguma estrela.