Lapso
Dia de chuva.
Lágrimas do céu.
Mulher de olhos tristes, debruçada na janela.
Pele alva, lábios fortes
Flor de carne em chamas.
Seu desejo exposto ao céu.
Num sorriso languido e doce.
Vibra ao ver o que mais quer.
A noite, cálida senhora,
Enfeitada de lua e estrelas.
Seu pedido, quase uma súplica de doce fêmea presa.
Em suspiros, tênue febril.
Lágrimas quase em sangue.
Mãos que tremem fora de si.
Seu pedido de nada mais
Que a louca vontade de alguém.
Em frenesi de sonhos
Resvalado em cantos e murmúrios de espera.
Ela, tesa, trêmula, em torpor.
Vê que tudo em si é fantasia.
Velha alma.
Seus sonhos e desejos,
Seu caso de amor,
E, sem mais poder em si mesma...
Enfrenta-se só.
Em passos largos e não tão firmes
Expõe-se ao vento... e cai, e voa...
De seus desejos, anseios
E mais profundos apelos:
Restam agora ela plena
apenas como lenda.
Malibe, 12 de novembro de 2005