Mazelas perdidas.

Tenho medo de expulsar meus encardidos,

tenho medo de esquecer de onde brota meus sangue.

Tenho medo de mirar e cravar o alvo,

tenho medo de vasculhar meus poros,

tenho medo de amar e ser amado,

tenho medo de morrer na hora certa.

Tenho medo de chegar no pico e me flagrar feliz,

tenho medo de arrancar a raiz errada, talvez a certa,

tenho medo de matar aquele beija-flor que acabou de sair do ninho.

Tenho medo das horas me inflamando sem dó,

tenho medo de me embriagar e achar o máximo,

tenho medo de me fincar e ficar enferrujado.

Tenho medo de destrancar meus cheiros, minhas fraldas surradas,

tenho medo de ser quem deveria,

tenho medo de ficar sozinho quando toda plateia debandar.

Tenho medo das facas, das faíscas, dos riscos,

tenho medo dos reis, dos vassalos, dos carrascos,

tenho medo de Deus, e também do Deus de Deus.

Tenho medo do podre, do aguado, do falido, do puído,

tenho medo de gritar até explodir meus guizos,

tenho medo das culatras, dos estribos, das encruzilhadas,

tenho medo da fé, também da fé da fé.

Tenho medo de nascer de um ovo,

tenho medo de me perder de mim mesmo,

tenho medo dos versos mal rangidos que tento fecundar.

Tenho medo dos números, dos véus, do sim, da chama,

tenho medo do limite, do rebite, do nó, da mão.

Tenho medo de virar do avesso, de ser reflexo, de virar eco.

Tenho medo de ser cenário, de ser mendigo, de virar furacão,

tenho medo das palavras, dos desafinos, do fim.

Tenho medo da casca, da porta, do solavanco,

tenho medo de ver e respingar,

tenho medo de acertar o tom,

tenho medo de deixar o rio se benzer nas minhas mazelas perdidas.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/03/2016
Código do texto: T5563059
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