Vague, Soldado. Voe se capaz.

(Se uma pessoa surgisse e dissesse que era possível voar,

Você acreditaria?

Se essa pessoa tivesse asas angelicais capazes de voar,

Você acreditaria?

Se o brilho que essa pessoa emana o fizesse voar,

Você acreditaria?)

Vague, soldado, vague pelo caos. É pelo caos que deverá andar.

Você não foi preparado para esse ambiente, eu estou ciente disso,

Mas todos precisam viver aqui, soldado. Então não pare de vagar.

Encontrará outros parecidos como você, mas fique atento a isso,

Pois eles não serão como você, serão soldados de outros exércitos.

Você se sentirá sozinho por muitas vezes, jovem solitário soldado,

E ao ver os outros deixará de sentir que seus princípios são certos,

Mas nunca pare. Nunca pare! Vague, ainda que pareça errado.

E um dia talvez você tenha uma recompensa - provavelmente não,

Mas o importante é que continue a seguir o caminho de seu coração.

(Se esse anjo o tocasse na face e fizesse você corar,

Você acreditaria?

Se esse anjo ao ser tocado também passasse a corar,

Você acreditaria?

Se você de algum modo gostasse muito desse - e de se - corar,

Você acreditaria?)

Jovem soldado solitário, tornar-se-á taciturno com o passar dos dias,

E temeroso à humanidade. Achar-se-á um pobre tolo desconcertante,

Então, soldado, você precisará esconder-se diariamente nas poesias,

E isso o fará diferenciar-se ainda mais dos outros, incolor desbravante.

Pensar-se-á insano, enlouquecido de tanto diferenciar-se do normal,

Questionar-se-á e acreditará que não fazes sentido algum de fato.

Jovem soldado taciturno, logo sentir-se-á em um constante carnaval,

Insano de verdade, nem pensadores lhe parecerão de bom pensamento,

E você se verá preso na cruel realidade, à obrigação de sempre vagar.

E vagará, soldado, vagará por anos. Não precisará entender, apenas vagar.

(Se tudo o que o anjo dissesse fizesse você sorrir,

Você acreditaria?

Se tudo com o anjo o fizesse conseguir sorrir

Você acreditaria?

Se o simples olhar desse anjo, o olhar, fizesse-o sorrir,

Você acreditaria?)

Soldado, será tolo para sempre, um tolo cujo dever é apenas vagar,

E saberá disso, soldado. Saberá tanto que terá vontade de gritar.

Vão o chamar de louco, ver-se-á louco! Ver-se-á louco! Vão o linchar!

E linchar-se-á você mesmo, soldado! Por incapacidade de se comportar!

Esquecer-se-á de que faz o que faz porque aprendeu que isso é bom.

Esquecer-se-á, e não saberá mais dizer-se bom. Será mau, soldado.

E com toda a sua maldade, o barulho o irritará. Será inimigo do som.

Vagarosamente a sua humanidade se esvairá, soldado empacado,

E já nada terá a ver mesmo com as pessoas de sua idade. Nada, nada.

Até chegar o dia em que usará mesóclise. Sim, nesse dia terá enlouquecido.

(Se esse anjo fizesse o céu nublado se ensolarar,

Você acreditaria?

Se esse anjo desse luz ao medonho anoitecer,

Você acreditaria?

Se esse anjo o amasse do primeiro sol ao último luar...

Você acreditaria?...)

Anos se passarão, soldado. Até a ampulheta da vida se estagnar.

E você não terá feito nada além de enlouquecer-se mais e mais.

Soldado camPeão, você terá cumprido o seu papel de vagar,

E no paraíso poderá vagar pelas planícies do amor e da paz.

Quem foi você, soldado? Algum dia sequer teve uma identidade?

Um nome, soldado? Um ofício em especial? Talvez uma idade?

Nada? Nada. O soldado camPeão não terá sido realmente nada.

Agora por ter sido um bom rapaz, continuará em paz, sem ser nada.

O mundo terá lhe parecido caótico, soldado. E agora você morreu.

O caos está ali como sempre, soldado. Soldado... e você já morreu.

(Se essa pessoa fosse capaz de mudar o destino,

Você acreditaria?

Se essa pessoa quisesse mudar o próprio destino,

Você acreditaria?

Se vocês pudessem se salvar unindo os destinos,

Você acreditaria?)

Você acreditaria?

3/3/2016