Pó bastardo
Numa linda soleira estava ela
cheiro donzelo, boca à caça, descascada toda.
Cabelos sem dono, voz debandada, morna,
parecia miragem roubada do travesseiro de Deus.
Tentei abraçar, me atracar às suas vísceras feito vão perdido,
tentei sacudir sua alma até achar o pavio do gozo
tentei me refletir na sua pele ainda imberbe, desisti.
Mulher ainda cálida, ainda refém de mim,
deixando as coisas jogadas no relento da dor,
deixando cada passo ainda por cumprir,
deixando meus guizos em torrente desespero.
Mulher meio banida, meio bandida, meio sirigaita,
querendo me acorrentar com seus gritos de condenada,
querendo me entornar no seu cheiro sem vergonha,
querendo me nascer de novo nas suas encruzilhadas de fé.
Se ainda tivesse engasgos de sobra pra se desculpar,
se ainda segurasse o timão da minha verdade como antes,
se ainda pedisse perdão e o conseguisse, quem me dera.
Onde tiver rasgos cerzirei meus suores sem pressa
onde tiver forcas colocarei flores, todas elas,
onde tiver sonhos ásperos colocarei enzimas de amor.
Então, juntos, atracados, algemados, atados feito pó bastardo
farei de você minha paixão de tenor exilado
farei de você meu troco errado
farei de você meu adeus triunfal.
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