Abelha Marciana

Pelo que percebo o mundo não é previsível,

Muitas pessoas e variáveis, muita geografia,

O mundo é mais do que a função do possível,

É todo o plano cartesiano, poema e fantasia.

Encontrei um ser fantástico se dizendo comum,

Uma abelha marciana, um inseto espacial,

A alienígena se diz um inseto, inseto!, só um,

Mas é um sonho de criança, manifestação surreal.

Abelha marciana, a tua ferroada venenosa

Desestabiliza meus sistemas nervoso e emocional.

Vives no vácuo, és única abelha, formosa,

Tornaste abelha meu ponto gravitacional.

Quanto tempo teremos até que a ferroada nos mate?

Eu letalmente intoxicado, você partida ao meio,

Abelha venenosa, encarnação de disparate,

Que fazes em Marte? Do que seu pulmão é cheio?

Filotraquéias, filopoéticas.

Hipnotizaste-me com a sua dança de flor,

Seduziste-me com a sua fonte de mel,

Envenena-me mais com o seu odor de vácuo

Pois é só essa substância que me leva ao céu.

Abelha marciana, responde todos meus porquês,

Faz o mundo mais são, minha constelação mais forte,

E pergunto-lhe, alien, pergunto-lhe por quê?

Por que teu mel é álcool e teu zumbido, êxtase?

De todos os panapanás e teias que o mundo nos fornece,

De tudo és a mais bela abelha, extraterrestre felicidade,

Mas não serias minha colmeia nem mesmo que eu me matasse.

O perfil que impossível que sonhei no alto de minha vaidade.

O único inseto que parece certo.

A única ferroada que parece antídoto.

O único alienígena que entendo de modo perfeito.

Feiticeira que transforma em pesadelo um simples ponto.

O ponto final, representação do mal.

Eu nunca pensei nem nos momentos de maior autoestima

Encontrar alguém que eu desesperadamente quisesse em minha vida.

Abelha querida, és o ticket para a saída do corredor da morte!

És a luz no fim do túnel! A arca perdida! A princesa escondida!

Você traz a mim a segurança de não estar sozinho no vácuo,

Traz em mim a alegria de ver que a despeito de tudo ainda existe algo!

Abelha, Abelha, Abelha!!! Você percebe, Abelha assassina?

Percebe que eu você é o que sonhei por toda a minha vida?

Percebe? Percebe, assassina? Que lhe desejar é uma espécie de sina?

Como direi que te notei há dois dias se és o que quis por toda a vida?

Abelha assassina, que delírio! Que delírio! Tão alucinante!

Mais valiosa que qualquer loteria! És minha peçonha lírica!

Como terei uma joaninha,

Uma borboleta,

Ou uma coelhinha,

Ou uma gatinha

Se é a abelha

Que se encaixou perfeitamente

No que eu queria?

Ah, casarei-me pensando na abelha? Casarei-me pensando em Marte?

Como posso ter a Terra se o que quero está em Marte?

Sardônico deus da guerra, gosta do caos que coloca em mim?

Pois ria. Ria. Ria! Sou palhaço do inseto abelha martins.

As noites em claro e os risos histéricos,

Os sonhos inalcançáveis e a pele ardente,

Vieste você dum cupido bélico

Só para dar curto em minha mente?

E és o brinquedo caro da televisão,

És a nota dez na prova de física,

És a viagem com acompanhante,

És a vida que quero e que jamais terei,

És a ilusão mais estonteante,

És meu pesadelo por ser escravo de tua boca.

Pelo que percebo o mundo não é previsível,

Muitas pessoas e variáveis, muita geografia,

O mundo é mais do que a função do possível,

É todo o plano cartesiano, poema e fantasia.

Encontrei um ser fantástico se dizendo comum,

Uma abelha marciana, um inseto espacial,

A alienígena se diz um inseto, inseto!, só um,

Mas é um sonho de criança, manifestação surreal.

E no dia impossível que eu tiver você,

Minhas noites não gritarão mais comigo.

29/2/2016