SAMURAI EMPALHADO
Falar do amor como refugiado qualquer
um tanto de alma franzina, assustada, esquecida.
Um tanto de sangue empelotado, murcho, oco por certo.
Falar do amor feito samurai empalhado, mofado,
como nômade se perdendo de si e se achando rei,
como eco que fugiu dos seus trilhos ainda imberbe, ainda intacto.
Falar do amor com ossos açoitados, tristes, decapitados.
Tentando se encharcar de nódulos tantos, de prantos bem-vindos,
tentando rasgar as cobertas só pra costurar de novo, tantas vezes fosse,
tentando correr sem saber de quem, nem pra onde.
Falar do amor com asas falidas, esgarçadas, besuntadas, abençoadas,
comendo migalhas que ficaram entulhadas de dó, de fartas ventas,
corroendo aquele gozo que uma se fez de Deus e nem era Dele,
sabendo onde coroar e onde desgarrar, mas esquecendo tudo de uma vez só.
Falar do amor como quem foi pro mundo e achou o máximo,
daquele mesmo jeito que se fez homem, se faz tempo,
e agora são só confetes melecados de suor maldito.
Falar do amor como piranha que ainda não completou os programas da noite,
e que, de algum jeito, se fará poupada dos solavancos do perdão,
e dos festins tardios do morrer, tão oportuno morrer,
tão encardido morrer, tão escorregadio morrer.
Falar do amor sem purgar os passos cariados das amas de leite,
nem daquelas surrupiadas mães que fizeram da gente sua cria maior
e depois se arrependeram disso por toda vida.
Falar do amor sem rima, sem rebarba, sem nada.
É deste jeito que quero me ser, me ter, me fazer, me crer.
Então, por certo mais sacudido e mais desafinado,
vou entender todas suas farpas, todos seus silêncios, todos seus engodos, todos seus engasgos, todos seus entediantes sorrisos.
Só assim, tomara, poderei deixar de faquirizar minhas toscas noites de sono,
só assim seremos felizes de novo.
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