Um leão não voa!

Entre as fronteiras dos meus desejos, tudo é possível.

Arrebato-me do silêncio marasmático, com um grito doce,

e perco tudo do controle de tudo,

me torno um monstro bom ou um homem mau,

uma personagem ou um ídolo dos meus devaneios.

Deixo que o incontido no perverso, retroaja,

molho a escuridão com as lágrimas do medo,

suspiro, inspiro, retorno ao sono profundo.

Quando rumino o último amor que tive, penso nas flores,

Imbiribas loucas que se retorcem em meu peito,

atiçando o meu mais forte desejo: o de beijá-la longamente.

Por que há lembranças indevidas? Amores proibidos?

Em abissal viagem voa o Ego. O poeta cego não é cego,

e termino por deixar meu sangue jorrar pelo olhar,

esconder-me atrás da frouxidão de miserável solidão,

aí ela passa em frente à mim, à luz da praça.

Há outros gaviões. Não sei voar, contento-me em permanecer

como dócil leão apaixonado.