Ousado vento
Como ousas, ó atrevido vento,
tocar assim da minha amada
o rosto, sem assentimento,
sem cerimônia, nem mais nada?
Não vês que é doce a minha amada
e triste o verde dos seus olhos?
Mas é tão linda, e como fada
me afasta logo dos abrolhos.
Ousado vento, os seus cabelos
poupa; não lhe crispes as mãos.
Escuta atento os meus apelos
e forra com folhas o chão.
Ali me deitarei com ela
na noite clara, enluarada
de inveja da beleza dela.
Pois é tão bela a minha amada.
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N. do A. – Na ilustração, Desire de Pino Daeni (Itália, 1939 - EUA, 2010).