MEU CORAÇÃO

Desperta meu coração e fala de ti mesmo.

Fala do apego que se dá na imensidão da saudade;

Brinca o jogo dessa morte, donde nascem flores coloridas;

Fala da canção ingênua, das centelhas doloridas;

Fala do divórcio imposto que te une a tu’alma gêmea!

Fala dos passeios pelos ares, do infortúnio que tornou-te em Ícaro;

Dança sob o esteio de uma lágrima e ergue a sombra da esperança;

Finge a verdade que perturba os teus valores;

E se o sol te negar confiança,

Acalma suas chamas e abranda suas dores!

Vem calado até teu palco, que a platéia é azul como os olhos teus;

Tinge o céu que pranteia pelo empréstimo desse dourado de teu véu;

Dá-te altruísta ao brancor dos areais que te invejam a alva pele;

Fala tímido e sem pudor, que és mito, conto e lenda – lindo amor!

Não te cales coração, não pereças ante o medo;

Fala em desatino da paixão que se desata;

Abre as portas ao amor que precede a ti em tua própria sala;

E se o terror do sofrer te seduz a esmorecer,

Alardeies à ilusão, pois tu morres de amor quando falas,

E de paixão grita teu olhar quando calas!

Desperta coração e fala de ti mesmo.

Fala que se equivocam teus atributos, que te ignoram a real face;

Proclamas que tu andas, que teu ar me cria quando a esmo palmilho;

Que te desposou a natureza, que te ama o vento e o sol tanto te quer;

E confessa que tua casa não é meu peito.

Meu peito é apenas teu leito, onde repousas coração meu – linda mulher!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 06/07/2007
Código do texto: T554241
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.