MEU CORAÇÃO
Desperta meu coração e fala de ti mesmo.
Fala do apego que se dá na imensidão da saudade;
Brinca o jogo dessa morte, donde nascem flores coloridas;
Fala da canção ingênua, das centelhas doloridas;
Fala do divórcio imposto que te une a tu’alma gêmea!
Fala dos passeios pelos ares, do infortúnio que tornou-te em Ícaro;
Dança sob o esteio de uma lágrima e ergue a sombra da esperança;
Finge a verdade que perturba os teus valores;
E se o sol te negar confiança,
Acalma suas chamas e abranda suas dores!
Vem calado até teu palco, que a platéia é azul como os olhos teus;
Tinge o céu que pranteia pelo empréstimo desse dourado de teu véu;
Dá-te altruísta ao brancor dos areais que te invejam a alva pele;
Fala tímido e sem pudor, que és mito, conto e lenda – lindo amor!
Não te cales coração, não pereças ante o medo;
Fala em desatino da paixão que se desata;
Abre as portas ao amor que precede a ti em tua própria sala;
E se o terror do sofrer te seduz a esmorecer,
Alardeies à ilusão, pois tu morres de amor quando falas,
E de paixão grita teu olhar quando calas!
Desperta coração e fala de ti mesmo.
Fala que se equivocam teus atributos, que te ignoram a real face;
Proclamas que tu andas, que teu ar me cria quando a esmo palmilho;
Que te desposou a natureza, que te ama o vento e o sol tanto te quer;
E confessa que tua casa não é meu peito.
Meu peito é apenas teu leito, onde repousas coração meu – linda mulher!