CRUZ PESADA

A primeira ilusão,

O primeiro amor,

O primeiro suspiro

Esmurrando desesperado

As paredes do peito,

A primeira ferida

Em meu coração,

O primeiro gemido de dor.

Todos eles

Reunidos em palavras

Que foram um dia

Ajuntadas uma a uma

Pelas mãos desse louco

Que pensa ser profeta

Sem saber que é poeta,

Na esperança raquítica

De compor os versos

De sua última poesia.

A primeira rima

Na ponta da caneta,

A primeira frase

Fluindo de um olhar

Sobre o papel despejado

Como gotas de saudade

Caindo em lágrimas

Para correrem em riachos

A encorparem rios

Desaguando no mar.

E se querem mesmo

Saber a verdade

Eu vou lhes contar!

O que eu escrevo

E todos podem ler

Em versos a cantar

São convites pra sonhar,

Mas basta que uma lágrima

Dos olhos de alguém

Pela face possa rolar

E tudo pode acontecer,

Pois o sonho em realidade

Pode até se transformar.

Mas se alguém pudesse ver,

Os versos que tenho escondidos

Nas páginas sombrias

Guardadas em minha alma,

Saberia co certeza

Da minha imensa agonia,

Pois na longa jornada

Em que vivi a caminhar

A poesia foi cruz pesada,

Tão pesada de carregar!

Foram muitas as chicotadas

Que eu tive de suportar

Sobre o corpo dolorido

E poucos foram os Cirineus

Que achei pelo caminho

Dispostos a me ajudar.

Os que lerem esses versos

E mesmo assim pela poesia

Ainda quiserem se apaixonar

Tomem suas cruzes

E venham comigo

Pela terra caminhar.