DECIFRA-ME OU TE DEVORO

Todo poeta

Tem duas faces,

Como os dois lados

De uma mesma moeda!

Por isso não pergunte

Por quem esse pobre sonhador

Vive a suspirar,

Eu suspiro pelos versos

Semeados pela terra,

Suspiro pelos versos

Semeados pelo mar,

Suspiro por todos aqueles

Que foram atirados ao ar

Pra caírem em promessas

De flores a desabrocharem

Dentro do seu olhar.

Esse meu eu bandido

Nasceu de um desejar

Nos olhos da menina

Que vive perdida

Pelas ruas a caminhar,

Esse meu eu safado

É um fruto proibido

De doce amargura

Que todos querem provar

Mesmo sabendo

Que um dia

Terão que vomitar.

O outro eu,

Tão sem graça

E tão calado

Sobre papeis debruçado

Tão sisudo a pensar,

É um homem sério

Amarrado a um mistério

Que não pode desvendar.

Por isso quando ler

Esses versos apaixonados

Nas frias madrugadas

Sobre a tela despejados

Não venha perguntar

O que ninguém pode saber,

Nem eu mesmo

Tenho mais certeza

Se sou quem escrevo

Essa dura realidade

Em que vivo a sofrer

Ou se é ele que sonha

E sou apenas um pesadelo

Do qual ele não poderá jamais

Um dia acordar.

Portanto não perguntes

Se tens medo da resposta

Que possas receber

Pois não será com palavras

Que eu vou te responder,

Você mesma

Terá que descobrir

Olhando em meus olhos,

Quem sou eu de mentira

E quem sou eu de verdade

Sobre a foto a sorrir.