A Vida que me aquece
O vento me gela a face
A chuva molha meus lábios
E de longe Ele corre a mim
Com o guarda-chuva
Me alegra no caminho
Que faz e desfaz a minha frente
As manhãs de vez em quando dormem
Não há melodia que voa
O pão da esquina esfria às cinco
Faz oscilar meu peito
E das minhas mãos quebra o feito
Aquela linda xícara
Aquela do século passado
Quebra, estilhaça no chão
Olho e me vejo
Ele vem
Me acalma a alma
Sem relutância
Vivo em seu ar
Nos seus olhos que me soltam
Aprendo a me descontrolar
Sem me medir para O amar
Ele é o pai que me chama pra casa
Quando fujo
Quando quero me ferir instintivamente
Com o brinquedo perigoso
Perigo que eu crio
Ele não me impõe rancor
Mas me fala do que for
E me acompanha
Sem nunca incomodar
E me direciona com seu olhar
Ele é maior que meu vazio
Que caminhava sem Ele
Antes da chuva no frio.