O DIA EM QUE CONHECI ANNIE HALL

Ao entrar na sala, ouvindo o silêncio do campo,

Numa noite clara de luar ingênuo,

Após ter estado imerso nos Sonhos de Kurosawa

Nada melhor que se servir de um Whisky com gelo,

colocar um disco do Chico,

Seguido por um disco do Tom na vitrola

Sempre gostei de livros, música e cinema

Toda semana eu ia ao cinema

E foi numa sala de cinema

Lá pelos anos 70,

Que um dia conheci Annie Hall

Annie Hall, seu chapéu, sua gravata,

Suas roupas, seu carisma e suas falas,

Foi ali que me identifiquei com as parábolas

Do Woody Allen e sua Nova Iorque,

Seu jeito de ver Nova Iorque

Em Manhatan tem um rio e uma ponte

Em preto e branco,

Um rio e uma ponte,

Que parecem estar tão longe,

Quando estão tão perto,

Que parecem estar tão perto,

Por estarem tão longe.

Quando Joey e Renata chegaram à janela

E olharam lá fora

Pareciam tocar o passado

Pareciam querer resgatar alguma coisa no passado

Seus olhares fizeram-me lembrar minha mãe

O vago olhar de minha mãe,

Que com seu cigarro, na janela

Parecia olhar o mar, mas não havia mar

Havia uma pequena roseira

Com suas rosas brancas no quintal

Um dia...

Um dia eu conheci Annie Hall

Arnoldo Pimentel