Amor é substantivo próprio
Amor?
Que é isto no centro do peito?
Vertendo no centro do sexo?
Vivendo com centro nos outros,
Fervendo no centro do cérebro?
Que será mesmo esse tal de amor?
Que chega como quem faz bem
Te dilacera, te corrompe
E você ainda ousa dizer
Que sentimento mais lindo não há
Que será? Sabe-se o que não é
E amor isso não há de ser
Amor doce sensação
Que transforma até o mais teimoso
E amolece o coração mais duro
Que entorpece
Distorce
Priva da razão
Nos tira a clareza
Amor!
Vira as mentes de cabeça pra baixo sem dó
Faz corpos tremerem, mãos suarem
Bocas pronunciarem românticos clichês
Rouba da vida todos os sentidos
E entrega-lhe razões novas pra continuar
Nos quebra por dentro, só pelo prazer de consertar
colocam-no em altar
à luz de velas brancas
como se de pureza o fosse
enquanto eu, de velas negras o cerco
já que de ausências se faz
cá pra mim, o amor
ausência de cor
de mim, de dor
eis, assim
pra mim
o tal
amor
Talvez o confundimos com carência
Talvez com ele preenchemos a solidão
Mas se ele esta em todos os lugares
Será que é quando sentimos tudo de uma vez ?
Quando de sentimentos inexplicáveis afogamos o coração ?
Ainda que me fira a alma
Que a realidade seja meu carrasco
Que a dor de sua inexistência seja tão profunda...
Como uma lança transpassada em meu peito
Ainda que a lucidez me amordace
Continuarei acreditando que
O amor seja uma de minhas faces!