Em teus pequenos olhos
Habitam vastos Universos
E o meu pequeno mundo está contido
Numa fração desse teu olhar.
 
Versos noturnos, indigentes, como há muito não compunha.
Poetas buscam música na secura das palavras,
Músicos buscam no som as palavras diluídas.
 
Devaneios em que esqueço de mim
Para alcançar a tua distante presença.
Aí, me pesa o sono
Por tantas noites sonâmbulas
Perseguindo a tua miragem.
 
Assumo um saveiro errante,
Navegando sob um céu cinza
Sem bússola ou sextante.
Viajo para resgatar um tesouro:
Teu carinho.
Continente longínquo, improvável...
 
O poeta quer ser pintor
E fazer saltar dos rabiscos delirantes
A tua imagem iluminada.
Rabiscos indolentes como há muito não me atrevia,
Mas quis ousar para sonhar com a tua indulgência.
 
Manhã de sobressalto!
Meu corpo grita com a lembrança do membro perdido,
Tua boca em minha pele
Teus dedos em meus pelos,
Minha outra face encontrada.
Cedo, procuro beber-te a voz,
Frescor que me invade, arde e gela minhas veias.
 
Ao fundo, uma música ouvida na infância.
Sons e sílabas se fundem, confundem-se,
Um abraço fugidio no infinito.
E a melodia transmuta teus gestos, tua voz,
Polifonia numa única entidade.
E então não sou mais sozinho, mas somos um só.
Baque suave de uma onda,
Teu nome ultrapassa meus lábios:
Teu nome...
 
Falência da mente,
Alvorecer da madrugada.
Alexandre Coslei
Enviado por Alexandre Coslei em 23/01/2016
Reeditado em 03/02/2020
Código do texto: T5520844
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