Tempo, que queres?

As lágrimas desesperançosas encharcaram os olhos que estavam feito terra seca, e algumas vozes lhe perturbaram a mente.

Seu corpo trépido e a face cadavérica.

Escoava como por entre as brechas de suas mãos toda intrepidez.

Acompanhavam-lhe música antiga e um cão, longevo.

As luzes estavam apagadas. Agonizava no estreito do beliche de inupto.

O teto andava indiferente e imóvel, tímido talvez.

Proseava com as paredes descoloridas, desbotadas pelo tempo, e o chão surrado.

Movia-se quase em movimentos espirais e torcia-se em sua afiguração intrincada.

Alucinava em surtos de cólera.

Às vezes, corria nas gramas verdejantes buscando fugir das mazelas mortíferas do mundo lá fora.

Frustrada adiantou os passos. Saltou sonhos. Borrou-os.

Gritaram-na.

Agarrou-se às cobertas e às entranhas.

Sucumbiu-se perdida.

Amarrou-se ao nó inebriante da magia de alguém fugaz.

Deleitou-se em veneno espalhado como plantinha frutífera de cor reluzente e hipnotizante.

Esqueceu-se na esquina do desejo. Obstinou-se.

Foi vã. Encarcerada e morta. Envelopada e muda.

O silêncio afiado lhe perfurou a razão.

Os sentidos ocultos fumegavam distorcidos.

Apalpou os sonhos desfalecidos.

Vasculhou os seus destroços enferrujados e bateu o tapete empoeirado, escondido nos lugares quase inabitáveis do peito.

Torpe esquizofrenia. Perambula descalça por entre os espinhos do descontentamento. Enlouquecida e frígida.

Turbilhão de questionamentos.

Lírios amarelos, sabor de vento.

Tempo, tempo, tempo.

Que queres?

Será que a ofereceria a sensação de eternidade nos afagos de quem ama?

No horizonte se dissipava, como fumaça de cigarro, a utopia.

Derramou-se no o pano estendido sobre seu chão de frenesi e nuvens abafadas.

As traças ao seu redor eram arranjos.

Pensava em segredo e se calava. Refletiu sobre os espaços poéticos e a espera se transformou em música.

Chafurdou-se na lama da trama brutal.

Estava feito homem em decomposição num ritmo frenético. Só cresciam pedras e areia. Seu destino foi fraturado.

Erguia-se um inferno.

Hellen Leandro (2015)