ESTÁTUA

Se for de pedra sabão

levá-la-ei pelas bandas

das Minas Gerais

ao lado de outras

de Antônio Lisboa

deixarei ficar observando o céu...

O céu interno que me devora

as mãos, a carne, o tempo...

Se for de madeira,

colocarei no altar de minhas desconfianças

onde faço pobres preces

pedindo um mundo de terços, de piedades,

de ladainhas, de misericórdia,

de tolerância...

Se for de bronze,

recolherei-a dentro de meus olhos,

e banhada em lágrimas

fixá-la-ei com minhas dores

nas minhas lembranças

de homem tímido e nítido.

Se for de barro

amadurecerei-a ao fogo,

para que rígida

sirva de expectadora

das velas que acendo

cheio de vãs esperanças,

de fés abaláveis,

de razões obtusas...

Agora se for de chocolate,

deixá-la-ei para ti.

Que ela te faça

vício em teu corpo límpido,

saliva em tua boca árida

e prazer em tua língua insaciável.

Beijo-te assim

eternamente c ativo

e sabendo que de teu livro

não passo de folhas de recordações.

Mal escritas. Mal deixadas.

Folhas amareladas que guardam

uma pétala já sem perfume algum,

estátua de minha devoção silenciosa.