O Rei Escravo

Em um reino, um pouco distante.

Vivia uma princesa deveras bonita,

Que vestia as bonecas e vivia menina.

Feliz que não era com a pobreza do povo.

Ela sentada em seu ouro, muito mais pobre ela era.

Um escravo triste, como todos que existem,

Que sonhava com pão, que sonhava com vinho, sonhava dormindo,

Sonhava pedindo, mas seja lá o que for nunca teve o que quis.

Cansada de tudo, dos muitos de poucos.

Dos poucos de muitos, das feras e loucos, andou, pulou muro, e depois outro muro.

Desceu as escadas, ganhou de noite a estrada subiu na estátua e gritou lá de cima.

Prefiro ser mulher, cansei ser menina.

O escravo abriu os seus olhos e viu o que pode,

No clero e na corte jamais deveria

Ter uma menina, subindo em estátuas ou gritando palavras.

Palavras que fossem verdades ou mentiras. Reis preferem as quietinhas,

As que falam em surdina, do que as que gritam na noite.

A princesa que ainda era menina fitou o escravo com sua a luz divida

Sorriu um sorriso, de pão e de vinho que trouxe, acredito,

Muito mais que carinho a um escravo mendigo.

Sem saber se era certo ou errado o pobre coitado ficou encantado

Com os olhos fitados e focados no bem.

Mas a vergonha, maior do que antes, precedeu o instante,

Que a menina desceu de mansinho, chegou bem pertinho, retribuindo o carinho,

Olhando também.

- Quem és você? Parece bem sujo, roupa rasgada, cabelo não há.

- Mas por dentro vejo o homem mais lindo dos homens que pude encontrar.

- Pareço confuso, vejo princesa, mas enxergo o absurdo de não querer enxergar.

- Possível seria estar vendo coisas, mas outra coisa não vejo, senão seu olhar.

Dizem o povo que naquele instante, um príncipe cavalgante passou devagar,

- Venho de longe, minhas terras são suas,

- Prometido que venho do meu povo e meu reino.

- Casaremos em breve, e nada mais que me alegre, além de comprar,

- Seu sorriso com todo ouro e todo tesouro, que você puder carregar,

- Se um dia alguém comprar meu sorriso, será no retrato, pintado ou riscado,

Isso nem me importa,

Apenas desejo que seu ouro e seu reino voltem correndo porta sua a dentro,

Meu sorriso tem dono, mas nem sabe ainda,

Descobriu isso agora, entrando na porta mais simples que tinha.

- Minha porta é de prata com pedras preciosas, dizem que é a mais valiosa que há nas estradas, e até nas paradas dos cocheiros e damas,

- O que mais se discute não são minhas atitudes, são minhas riquezas, minhas terras, beleza meus dotes, nobreza, talento e fama.

- Sua porta é triste, como há algo triste em você. Acorde a tempo de você viver. Terás mais uma fama a partir de agora, já que também é conhecido, como o mais destemido,

- E Já venceu mais bandidos do que pode contar,

- Hoje foi derrotado por uma espada sorriso e um escudo olhar.

Dizem que neste momento, o escravo sem terras apontou para a lua,

Pois era única terra e riqueza que podia ofertar.

Era pra lua que juntava suas mãos em pedidos sozinho,

Pedia o pão, pedia o vinho. Sabia que não vinha, mesmo assim insistia,

Pois quem sabe um dia ela realizaria o pedido sob a luz do luar.

A princesa, que agora gotas chorava, abraçou o escravo que pra cima olhava.

Depois seus olhares novamente cruzaram nada mais importava, nada falavam,

Apenas choravam.

Gotas de lágrimas, gotas de sorrisos, gotas de luar.

Se não foi por decreto, ninguém sabe ao certo, mas no reino deserto, libertaram os coitados.

Depois daquele dia tudo mudou. Nem corrente, nem cravo, nem tortura no mato.

O trabalho escravo, de fato acabou.

Mulheres tão nobres subiram em postes, em telhados de telhas, onde quer que pudessem,

Procurando amores que nunca encontraram, buscavam os príncipes de ouros e terras, mas cegas que estavam, apenas achavam, ouros de tolo e castelos de areia.

Apenas a princesa, hoje rainha, que despiu a menina e vestiu-se mulher.

Encontrou no sorriso um reino perdido de amor e de fé