Letras 0105 - Dicionário
Dicionário, é meu dia que vem amanhã...
Aquele que consigo continuar o sonho,
aceitar o tempo ou a falta dele,
mover as pessoas, pra dentro e pra fora do coração,
da alma, do destino que não somos donos, do adeus...
Sou o livro louco da vida que me impõe,
os dias são páginas que escrevo com meu olhar,
as letras cheiros e gostos que provo,
hífens são sins, nãos, são virgulas, ponto, viro a noite.
Amanheci cego, como o vento que gela o corpo,
o frio não tem olhos sobre seu pescoço longo,
ronda os miseráveis queimando-lhes a pele nua,
provocando, atiçando, remexendo os problemas.
Não me tampem os ouvidos do som dos idiotas,
falo, ainda que não me ouçam, grito ainda sem voz,
apressem o trabalho, fechem as fabricas, apaguem a luz,
nada garante meus dinheiros no final do dia, me calo.
Posso me esconder atrás das mascaras, dos gestos,
perdi a realidade quando quis calar o mundo,
sou apenas mais um hipócrita que sonha um futuro,
com homens honestos, com atitudes de homens ao menos.
Meu dia recomeça amanhã de manhã, logo tem o sol,
sinto-me paralítico, surdo, mudo, cego, imbecil,
ando em direção ao nada que não sonhei,
aos amores que não amei, aos dias que não amanheceram.
Perguntem-me sobre o dicionário, sobre as letras,
dos livros que li, que escrevi e ninguém leu.
Perguntem-me o que vai ser do meu amanhã, do seu,
dizem que amanhã é outro escrito, já tenho o papel...
02/07/2007