Submersa

Parte I

Aquela que fui há algum tempo

Vangloriando-se da sua soberana sabedoria

Me atira um olhar irônico

Por reconhecer que nada do futuro sabia

Pois foi por nada saber

Que sua decisão tomou de buscar o incerto

Na forma de sonhos embaçados, a não desiludir-se

Em cada um deles não desperto

Parte II

E daí que por serem incertos

Surpresas em dobro trouxeram as façanhas

Quando tocar as árvores não bastava para sentir as árvores

Lhes escalava os galhos

Se alimentava dos frutos

E de suas entranhas

E esta que agora no espelho me fita

Banhada em fogo e gengibre recita:

- Lembra-te que ao escalar a árvore

Teu desejo inical era a paisagem admirar

Mas por tanto acreditar naquela que foste há um tempo

Acabaste por no lago mergulhar

Onde tudo é mais leve, exceto o folego

Onde a ansiedade susurra, mas o coração acredita

Onde o silêncio é maior, mas o olhar grita

Onde o tempo é relativo, e um dia é uma vida

Submersa, o caminho é mais escuro

A lanterna é a presença sentida

E a boca mordida

O peito que bate

E dos corpos o encaixe

submersa,

Submerge?

Marília Galvão
Enviado por Marília Galvão em 27/12/2015
Reeditado em 27/12/2015
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