Diferenças de um amar
Ela que não se apercebeu
Assim como eu, nem doeu
Afrouxou o que um dia foi laço
Deu nó em minha cabeça, repicou
Usou do meu coração
Como marcapasso
Ela que diz nunca ter pisado na avenida
Pouco a pouco fez guarida, moradia
Ousadia fez um samba em seu lugar
Ô morena, tão insensível, vê se me põe a amar
Vê se eu não me machuco, moço
Um tanto assustado, bicho do mato
Obedecendo a tua reles idolatria
Fez de uma utopia viver o fato
E eu que sempre fui moleque infalso
Pisei num dos caminhos tortuosos
Adormeci, quando dei por mim tava aqui
Enrolado em tuas besteiras, asneiras
Conversas para boi dormir
Ela jurava mandar em minha vontade
Eu jurava eterno amor um tanto calado
Gritava a plenos pulmões só para mim
Verdades que guardo comigo
Sonhos de um amor que construí
Bandido, é quem rouba coração e não diz porque
Amar-te foi a injúria que não pude ter
Revelar foi a loucura velada quando beijei você
Talvez foi puro encanto ou magia
Um caso raro de amor por idolatria
Um corriqueiro lance de olhares
Azar ou disritmia
Um golpe de sorte, uma falta de norte
Um tiro no escuro no coração
De quem nem mais sentia
É que amar tem dessas idiossincrasias
Morena trajada de afetos
Menino cheio de iguarias
Pele cheirando a desejo
Lábios projetando mania
Mãos que nunca param
Olhos que não abriam
Vontade que não se basta
Tempo para os que tem tempo de contar
Parar apenas por asfixia
Quando deu-se esse sentimento por sintonia?
Foram os reles encontros
Os desencontros da vida?
Meras conversas sem romaria
Quem sabe esse amor estivesse pairando
E eles ali sonhando com sua vara de desejar
Vai que foi com tanta verdade,
Fisgaram bem na metade
Que com a bravura pôs-se a completar
Veio cego, manco e maltrapilho
Consumiu fagulha e pavio, fez arder
Aquele que duvidou, apostou
Ou mesmo julgou, pois doido
Mesmo é quem não se apaixonou
Gabriel Melo 20-12-15