Passo a passo de amar
Deu-se pela estranheza, fez-se num rompante
De início se esgueirou pelas traças
Fez irromper risos, comparações
Deixou ele muito sem graça
Entre Clarices e julgamentos
Entre Orgulho e Preconceito
Meias entradas e um todo consentimento
Medo, cuidado, cumplicidade, mudamos de conceito
Se era para arriscar que fosse na entrada
Errei, exitei, falei errado, fiz-me envergonhado
Escondi meu eu que ela tanto admirava(?)
E ela tão inocente, tão admirada, eu a julgava
Sabia seus trejeitos, conhecia sua empatia
Ainda de longe eu a estudava, sonhava
Delineava mentalmente minha idolatria
Não sei onde eu caí, quando perdi, não me importava
Travamos nosso mais duro embate
Entre medo e cautela, era eu era ela
Tentava pela cortesia, ela por outra via
Ríamos juntos, trocávamos olhares
Eu jurava que escondia
Ela tinha certeza que eu não via
Comungamos de uma certa inocência
Aos eruditos fica o que chamam de demência
Sim, éramos bobos pedindo o fim da paciência
Eram mãos que suavam, olhares que esgueiravam
Boca seca, dedos suados, distonia, afonia, ufania
Ela quis não incomodar, decidir parar, agir
Fiz de seus dedos meus, demos as mãos, epifania
Fui te conhecendo lentamente, dedo a dedo
Pele e outras sinestesias, pouco a pouco
Eu sentia, o romper da tensão, o atrito
Entre duas mãos fazia fogo como o mais polido dos seixos
Agora era ela quem decidia, juntar-se a mim
Por descuido de vaidade ou por pura poesia
Deitou-se em meus braços, e de rompante
O que sonhei ser laço, morreu num abraço
Eternizou-se num caminhar sincronizado
Se agora a gente se conhecia, se meu coração ardia
Se pulsava a vontade, à vontade eu estaria
Ficar ao seu lado era questão de ousadia
Insisti, ganhei, levara para casa, contra sua vontade
Fiz a minha mais perfeita honraria
Embora o que eu buscasse ela subentendia
Ainda um pouco inebriado penso
Ou melhor, anseio, se ela me entendeu
Ouvi ritmos de seu coração, apreendi
Se estávamos nós ali, fomos silêncio
Um tanto errados, equivocados
Beijei-lhe duas vezes, arrisquei, ela corou, voltei
O que foi ansiedade e expectativa
Colocou-me no chão, fez arredia
Agora abatido, abarrotado, seu cheiro em meu braço
Seu cabelo em meu abraço, seu coração
A uma distância simples de um beijo que errou pelo espaço
Acertou pelo cuidado, ganhou respeito e fiquei calado
Terei outra chance com ela, a dona do meu eu mais estabanado
A que suscita meus erros, meus passos, traços, abraços
Sentirei sua falta, até logo é uma eternidade
Que coincidência é o amor
A nossa música nem tocou
Mas é que somos sincronia e teimosia, balbuciamos
Juntos em tal sintonia, que desejar estar ao lado
É questão de vida ou morte, corre tempo
Que meu amor por ela por si só fez-se hoje na eternidade
Gabriel Melo 12-12-2015