FOLHEIA-ME
Eu sou um rascunho perfeito da página em branco que a vida me propõe, ora preenchida e rabiscada pelos momentos contidos, a revirar-me em livros lidos na tentativa de preservar meus sentidos, ora estapafúrdias genéricas de uma vida excitante com méritos florentes, quem sou senão a minha própria página original, na busca de rabiscos coloridos para assim fazer minha obra prima em alguma prateleira, ser lida e relida, fuçada e grifada pelas mãos de um artista captador de mim mesma, pedindo ao final de sua leitura um autógrafo eterno na alma enfeitiçada. Rascunhar-me, livrar-me, ler-me, lamber-me, sedento de linhas curtas e preenchíveis, com a labareda fascinante de consumir-me na alma o meu complexo “sim”. Porque de “nãos” meu rascunho já tem de sobra, mas de você eu quero o consumismo frenético de todo meu ser, um livro aberto, sensível, rasgável, um tanto empoeirado e com linhas apagadas e rabiscadas pelos tantos caminhos errados que já entonou. Ei você menino doce com casca dura da vida, vem cá.....quer saber de uma história bonita, doída? Permita-me me apresentar a esse par de olhos fixos, que atormenta minha escrita. Do rabiscar cinza que minha pagina vinha na vida, ao ver-te colorida se espalhou, como um arco íris, fez em mim uma poetisa...ei é você mesmo, “pensador devorador de mim”, devaneia pelas montanhas em busca da nuvem branca tocante nas mãos......ei você que tem “Santos” no nome e no coração, foi você mesmo....ei é você mesmo......não olhe a sua volta espantado! É sua minha literatura inteira. Apenas pegue esse livro que te dei e faça dele sua sagrada oração, porque é o que te dou, minha “alma”, meu “sim” agora não complexo e sim desnudo, angelical, sentimental e cheio de “mim”. Ei mocinho.......me leva para sua cabeceira e folheia-me, estou a espera do toque profundo de seus dedos, passando-me folha a folha, adormecendo comigo na madrugada fria, acordando comigo debruçada em seu peito com seus óculos nas laterais pela exaustão de minha leitura......continuemos ao abrir os olhos, fixados um ao outro, na maestria que é o AMOR que ali se instalou. Ei “homem”, casa comigo?