VÁ PARA BELO HORIZONTE

O sapato deixado no canto com poeira, sombras, num silêncio.

O passarinho na gaiola chama outros nas mesmas prisões.

Minha mãe lavando roupa, a água saindo freneticamente em um turbilhão de sabão.

Meu coração a pulsar sangue, fecho os olhos e o tempo no meu dia interior é assombroso, aterrorizante saber que meus amigos estão filosofando amores.

As moscas em busca de vítimas mortas.

O velho periquito esperando o anjo do paraíso vir lhe chamar.

A televisão desligada e um breu de ininteligível vida.

Essas palavras que se formam e o meu divagar de imaginação.

Um homem escarra e cospe na cara da sua amada.

Uma mulher faz o café com terra fresca de dezembro, o inverno chegou? Sim chegou o tempo de preparar o tatu de ano novo.

Um gato vagabundo se lambe e o cachorro fica excitado.

Insetos entram no cadáver da minha vó, que mora no inferno esquecido pelos políticos.

O sol ferino consumindo a carne calejada, o sol adentrando as narinas das abelhas.

A rede balançando ao embalo do nada.

Fumo nas mãos, cigarro na boca, veneno na alma, fogo nos sexos.

O espelho cansado de trabalhar em prol das feiuras.

Malditos demônios em busca de mentirosos, malditos homens em busca de brigas nos cabarés, e um odor de Jasmim.

Os pássaros cantam a marcha dos festejos dos santos.

O velho a aliciar menores cegos e desdentados.

O grito da morte . . . os gritos da morte, o perfume da virgem em sua lua de mel, e o filho a matar os palhaços.

Fezes de cabra no café da manhã das pulgas, chá de erva doce no aniversário das baratas e uma morte de alegrias falsas.

Desejos revelados nos bordeis, ânsias na casa do puritano e os mesmos elefantes na cama.

Muito medo, medos inomináveis, medos de causar vômitos, mas tudo não passa de uma fantasia?

A gata briga com o morcego, a criança vai atrás da lacraia de duas cabeças.

O inverno chegou o céu está carmim, mas os trabalhadores civis estão embriagados de desesperança.

Na parede do vizinho uma farra de orgias capitalistas, e uma guerra pelo sumo dos prazeres proibidos.

Tudo antigo e feio? Tudo lindo? Tudo coerente? Não! Pois as caranguejeiras ainda estão assando na brasa, e falta muito para os escorpiões serem ingeridos por todos.

Cenas de bacanal transas entre as minhocas, e os velhos tomam mijos de gambá.

Minha mãe prepara o café, e eu penso no suicídio! Mas sabe a morte não resolverá nada. Deus existe.

Um vento do leste passa e beija meu rosto, o frio do inferno me queima na alma, e tem espectros a rondar as ruas de minha cidade corrupta.

Olhos flamantes, mãos tremulas, ódio nos lábios, terror nos sonhos, falta de carinho na solidão e tudo vá para Belo Horizonte!

Chagas nas mãos, mística de depravados assassinos, luto de moças desfloradas, e as baratas passeiam por entre minha goela.

Sombras nos olhos dos grilos, um fantasma passou por entre os livros de Kardec, meu Deus! Quando eu vou ser feliz?

O pássaro preto faz sua elegia. Um babaca chama a esposa de puta, mas ele não come mais da uva doce.

Tudo é loucura, o mundo é um devachan de teosofistas rudes, mas doutrinas salvarão os religiosos?

Os anjos cruzam o limiar de nossas dimensões barbaras, anjos pulam cercados em busca de comida, ou será o cheiro gostoso da torta que fez eles perderem a nobreza?

A gata arranca as pulgas e entram percevejos.

As moscas formam uma intriga para as formigas da ditadura.

Vestes surradas de grife enfeitam a vitrine dos analfabetos.

Provas de fardos podres de razões míseras do hospício íntimo.

A moça que sangra dorme na cama de plumas amarelas.

A moça que sangra acorda na cama de plumas azuis.

A moça que sangra vai à janela de brumas verdes.

A moça manda todos para Belo Horizonte visitar o tumulo de Érico Veríssimo.

Para o inferno com a política! Eu quero mesmo é roubar o níquel da criança suja! Eu quero mesmo é que meu país seja uma transmutação de gene defeituoso! Morra democracia! Que venha o terceiro milênio de amor... Ok?

Ó, meu Senhor, quando as imaginações deixarão de confiar na bomba atômica?

Estou cansado de ouvir os demônios meus amigos.

Estou farto de beber sangue morno.

Estou revoltado com o copo sujo.

Estou lascando com as florestas de dinossauros brabos.

Vamos voar pra Marte? Vamos para a aurora do eterno adeus?

Vamos parar nos abismos de insanos engravatados?

Vamos abraçar ao velho suborno aos porcos?

As galinhas estão esperando pela liberação da ração mofada.

Tudo vá mesmo é para Belo Horizonte!

Enquanto isso o passarinho contempla o sol.

O passarinho canarinho calmo grita de alegrias puras.

Come seu girassol tranquilo, e em paz, com sua prisão injusta, escreve poesias humildes de ser verdadeiro.

Na cozinha o café...

Onde está ela agora...

Eu penso nela...

Sou sozinho.... Tenho medo de fazer alguém infeliz...

Menina de cabelos bonitos, olhos de calma e de contemplação filosófica.

Meu medo é que a terra acabe, que Deus tire férias, que os anjos se tornem terceirizados e o cosmo volte a ser um ovo.

Estou precisando do abraço de uma fé. Estou necessitado de um adeus bem breve, adeus Anne Marie! Adeus Débora vou para a terra do eterno inverno, morrer de paixões e remorsos, Deus sabe.

Tenho saudade de correr entre os campos, de ar fresco, e de saber, que não existe hora nem regra para ser..... Grato com minha felicidade.

Onde estará o Paraíso? Em Belo Horizonte!

Ao lado dela eu vi o arco íris da nova era....

Francesco Acácio
Enviado por Francesco Acácio em 16/12/2015
Código do texto: T5481974
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