Caprichos de amar

O amor deve gostar da lentidão

O amor queimou-me por inteiro, fez das cinzas ornamento

Fez do seu ruflar fascinação

O amor maltratou cada pedaço

Estilhaçou mil e tantas vidraças

Fez vitrais quando pode, sangrou minha paixão

O amor consumiu cada sorriso meu

Engoliu meus dentes, língua e lábios

O amor arrombou minha casa já não tão visitada

Fez arruaça, destroçou as memórias,

Esqueceu-se do tempo com o ruir do relógio

O amor distanciou-se do chão quando subiu no trampolim

O amor caiu de si, do ápice,

E foi salvo de um grande estouro,

Por um danado de um querubim

O amor zombou de cada faceta de mim,

O amor tirou minha dignidade,

O amor fez lembrar que eu sou metade,

Indigna de respeito, racionalidade ou vontade

O amor tirou minha paz, minhas roupas, minha sanidade

O amor pôs-me abaixo, dilacerou a carne, escancarou a alma

O amor me colocou um nariz de palhaço,

Escondeu minhas qualidades e revelou meus demônios

O amor chegou mesmo a destruir meus sonhos, impondo seus caprichos

O amor me arrastou pelo lixo,

Catou minhas mentiras, reciclou o meu viver

O amor não fez nada que eu não quisesse,

O amor me deixou em febre sabendo como remediar

O amor me ensinou pela dor onde é meu lugar

O amor me colocou diante da inspiração,

Deu-me a mão, mas não ensinou como voltar

O amor queria me dar um lar, derrubou um terreno,

Fez do meu mundo pequeno

Uma cabana onde mal dava para eu entrar

O amor me apertou cada músculo, me deu um susto,

Fez do fraco o oportuno,

Do esperto o imundo, do mudo o profundo

O amor foi mesquinho, tirou-me do ninho

Quando nem sabia voar,

Colocou-me frente ao furação

E nem relutou, soltou minha mão

O amor me salvou da escuridão,

Pondo minhas fichas no coração,

Fez alegre o perdedor,

Encheu de coragem o maltrapilho,

Mostrou por onde seguir o trilho,

Apresentou-me ao gatilho,

Atirou sem compaixão

O amor me fez vítima da utopia,

O amor nem sequer me fez companhia

Quando fui preso em nome da paixão

O amor foi quem me soltou,

Me iludiu, desenganou

Só o amor teve a humildade de me mostrar

Que quando te achei me perdi,

Quando perdi foi que te ganhei,

Quando te abracei eu expandi,

Quando errei em seu nome aprendi,

Quando apostei no amor fui feliz

Gabriel Melo 12-12-2015

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 13/12/2015
Código do texto: T5479220
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.