O ancião
O ancião
Em sua meditação questionava ao Senhor:
- Onde está o meu grande amor?
- Por quanto tempo sentirei esta dor?
Quero partir e com ela encontrar.
Ao único filho já não dirigia o olhar
Sentia-se enjoado, nada tinha gosto
Sentia saudade do querido rosto
Sozinho, desanimado, era só desgosto
Cruzava a rua sem se interessar
Com o que a vida estava a lhe ofertar
Só queria dormir e não mais regressar
Triste desejo do pobre e cansado ancião
Seu navio logo, logo, poderia singrar
Oceanos, muito além no eterno mar
Porém muitas páginas ainda restavam
Ao filho único ele precisava ajudar
E no mar profundo da existência
Um dia ele viu o filho também mergulhar
Ficou a beira da praia a esperar
O filho que jamais iria voltar
Olhou para o céu desiludido
Sentia-se totalmente esquecido
De repente um triste gemido
Ao seu lado o fruto que fora proibido
Sem nunca ter sido revelado
Era o ser não esperado, mas concebido
A neta que jamais soube ter existido
O abraçava firme e decidida
Jamais soube da fatal aventura
Do finado filho também rejeitado
Não seria mais uma sepultura
Nem mais um a ser lembrado
Deus enviou-lhe doce criatura
Para lhe mostrar o fim inesperado
Sem reclamar, sem amargura
Por ela foi tratado e amparado
Não ergue mais suas dúvidas ao Senhor
Pois no fim da atual existência
Encontrou rara flor do divino jardim
Que está a espalhar sutil essência.