DECALCOMANIA
Dorme amada...Ao abandono do sono te entrega...
Não desconfies, na tua inocência
de que eu nesta louca paixão quase cega
e de pensamentos de pura indecência
nos quais, minha amada, me imagino
sorrateiro (enquanto tens um sono risonho)
me imagino adentrando em teu sonho...
...em teu sonho, como um clandestino!...
...E assim adentrando; quero também como corante
adentrar (por mais que com muito cuidado, não rele
teu corpo) amada...num desejo febril, delirante;
por entre teus poros...em tua pele!...
Gravada ficar em teu corpo a minha imagem
(reflexos de coisas, não sei se erradas ou certas
que supostamente; debaixo então das cobertas
entre nós aconteçam...) feito tatuagem!...
...E ao mesmo tempo, quero também fio a fio;
com fios de muitos indecentes desejos; um laço
tecer; fazendo às leis da física um desafio:
dois corpos ocupando o mesmo espaço!...
Dorme amada...Ao abandono do sono te entrega...
Não desconfies que eu ultrapasso o limite
(em sonhos) nesta louca paixão quase cega;
e que despertas em mim, sexual apetite...
Porém, o que vejo?...
...de um sonho acordo;
do meu veículo-desejo,
tu entras à bordo
dizendo: - "eu sou de teu frustrado desejo, o consolo;
não vês que estou acordada?...então te tatua
em meu corpo; devora esta carne sedenta de amor; toda tua...
...não sejas tão tolo!..."
(GERALDO COELHO ZACARIAS)