A Maldição Cardíaca

I.

Cá venho e vos digo

A todo aquele se deita

Donde a pele se ajeita

Nos braços e abraços

Dum renovado abrigo

Ao pensar noutra alma

Sofrerá um portentoso castigo.

II.

Tudo que não foi encerrado

A critério da bestial vaidade

Estará sob viço da eternidade

Num sentimento atormentado

De lembrar do lar que o peito

Deixado o silêncio malogrado

No contrato da alma desfeito

Unilateralmente por orgulho.

III.

O tempo afeito de jactância

É o filho bastardo da morte

Não contente em largar à sorte

Mata vagarosamente

Dentre o espaço intermitente

Que se amplia a distância

Feita de ânsia e desespero.

IV

Quem nunca fugiu

Nem que por sonho fosse

Do reencontro daquele ser

Que fostes desencontrado?

O amparo desta adrenalina

Pontuou na alma que trouxe

A mesma alma que causa

Um peso pela pausa

De perder a vergonha

E continuar de onde parou.

V.

Mas o orgulho tão vil

Faz da verdade um lacaio

Do amorfosear servil

De onde o amor se viu

Na estupidez da palavra

Guardada na garganta

Que o pesadelo desencanta

De forma sobrenatural.

VI.

Independente do sexo

Do pesar de cada amplexo

O que reconheces por ora

É a manifestação de outrora

Não é à toa que até no ódio

Quando os olhos se batem

Se apedrejam

São os mesmos que se beijam

No calor dos extremos.

VII.

De todos os pecados

Das distâncias construídas

São as honestidades destruídas

No acobertar desonesto

Tal sonoridade funesta

Ao aceitar a nova realidade bruta

Estará provando a dose de cicuta

Deixada por ti na janela.

VIII.

Quantos pares se partem

E partem para o infinito

Com tristezas e depressões

Impressionados pelas omissões

Já não terão como agir

Nem escutarão a alma rugir

Pela existência sepultada

Uma resistência ocultada

Não pode resistir para sempre

Pois até o sempre desiste de ser.

IX.

Portanto antes de partir

Para outros abraços

Saiba fechar as outras portas

Que comportam e se importam

Pois uma pessoa

Simplesmente amaldiçoa

Um par de existências

Que num mar de reticências

Não puderam seguir adiante

Onde o corpo finge seguir

O que o espírito não soube.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 25/11/2015
Código do texto: T5461101
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