Reencontro

Desde o último luar

Pairava o cemitério

Quando eu morri mistério

Entre as nuvens e o mar.

Sofre-se alguns meses

Que a distância dissemina

Mas relembro das vezes

Tal sinceridade ensina.

O ato de amar é imorrível¹

Feito de incertezas leais

É um relato incorrigível

Dos espíritos em rituais.

São animais intensos

Terrivelmente propensos

Ao caos vivo do romance

Ao tempo ideal da chance.

Se os olhos batem o olhar

Da estética abstração

A embarcação a marulhar

Sutil e autora da atração.

Rege no peito uma música

Que se apoia no coração

Um exervício² sem súplica

Vivente além da adoração.

As mãos dadas aqueciam

A condição inata do epitélio

Os males se esqueciam

Refugiados contra o tédio.

Éramos como sintagmas

Criados para a ação diária

Feito de icebergs e magmas

Um ápice de tensão por área.

As intenções precedem tudo

És uma alma sempre refeita

Assim como a tensão do ludo

Objeto da vibração perfeita.

Parece a criação da teogonia

De dois paracosmos reatados

Reatores de paixão e agonia

Da morte do hiato constatados.

Já não tenho mais as juras

Aquelas dos amantes cegos

A soma pelas energias puras

Denunciam o que eu entrego:

Uma poderosíssima verdade

Despida de qualquer vaidade

Deve ser a procissão da idade

Contra a época da mocidade.

Não tenho um tempo coeso

Me faltam outras alegorias

Alegrias que me fazem ileso

Sob o efeito das teimosias.

Nos fizeram por analogias

Pela retidão sempre visível

Ainda que da alma sensível

Somos feitos de profecias.

É a única garantia que dou

É que dure pela eternidade

Da vida que ainda restou

Isento desta efemeridade.

Eu deixo o texto pronto

Para o próximo reencontro

Que se repete a cada luar

Sob vigilância do céu e mar.

O Dissecador
Enviado por O Dissecador em 22/11/2015
Código do texto: T5456872
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