Reflexos em um Cálice de Vinho

Falando à noite, fada ou signo

cálida e mansa havia esta menina

E haviam bronzes

e o vinho de algum sempre o mesmo cálice

e haviam gonzos, perfumes

e um nebuloso canto

de um ouvir que eu não sabia

E na menina, havia a mulher

e dentre as duas havia um porto

dentre um momento e o outro

que este eu não sei bem, mas havia

- Estes portos constantes, como te explicar?

- Havia o teu silêncio, e a menina amuada

amuada, a olhar um mundo que fazias meu

mea culpa, mea culpa, meo mundo meu

- Havia a mulher, e tu eras minha

e havia o vinho, e o cálice num chão de quarto

e o teu amor espantado

nesta terra inexata e inexplicável

metade tangível de uma só esfera

feita do mar, deste chão

e dos portos que conseguimos construir

- Estes portos constantes, como te explicar?

Existem coisas, disto eu sei

como o desespero

e a calma em uma só noite

onde a boca já não fala

onde a mão se transforma

em atirada flama

dos meus gritos a lugar algum

Existe um lençol a ser rezado em dunas

Existe sempre um lençol

um depois

e nosso exílio pleno ou vazio

Existe um frio que se cala em chama

existe um além para cada fim...

Existe o sul

e os que se perdem senão ao sul

Existe o norte

desespero dos fortes

e esta luz, e já não sei se quero mais

os velhos rumos de ir ao sul

- Ah, este sul onde eu te espero

onde apanho conchas para ouvir teu nome

nesta praia, nesta ilha

muito além de qualquer equador

(Em outra ilha

um quadro pintado por um louco

ri de minhas tardes.

Uma solidão vazia e inútil

como todas as solidões desta tarde

- não por ser sábado, e carnaval

mas inútil

paira neste quadro e me amedronta)

- Como te explicar os portos inevitáveis?

Ouça:

- Existe um nome, meu

ou mesmo, um teu

Ou, ainda

um que seja teu, enquanto sendo eu

Existe uma lua, para além da outra lua

Muito mais ao sul

existe uma praia e uma ilha

onde pássaros nórdicos jamais aportaram