Fechar o círculo

Fechar um ciclo,

enclausurar num círculo

qual circo emulado de vestais em chamas.

Em arena genésica, ser fera

enjaulada

domada

em flecha e arco,

no grito e no chicote,

à voz que te endeusa e te proclama.

Aferrolhar num círculo,

archotear de negro a alma

na conceptibilidade cinestésica do ventre

em agitação

na adrenalina pastosa da paixão.

Estancar a palavra que se solta,

que liberta, flutua em ti,

na procura assíncrona

do toque,

da tua mão,

em urgência, exaltação.

De um aporto, de um amparo

de raiz, à arvore despida de corpo.

Na tua pele,

na epiderme d’ostras acobertadas no vinil das águas.

Povoadas de ternuras e saudades.

As nossas tardes

a tua voz soprana aos meus ouvidos.

Soberana.

O explodir cósmico, um a um, e todos ao mesmo tempo,

dos sentidos, em sinfonias bernardas de vento.

Descomprimidos.

Agrilhoar o ciclo,

no desmiolo pálido do verbo,

no esvaziar côdeas misantropas por dentro.

Em mim. E nos ribeiros a escorrerem-se

lentos, ensanguentados de lama, em avenidas

e rotundas solares.

Fechar o círculo, cerrar a língua ávida de ti,

no encerramento crepuscular

das mandíbulas,

dos maxilares,

de bocas epitáfias,

tumulares.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 28/06/2007
Código do texto: T543972
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