Amar o amor
Nunca conheci quem tivesse amado contente
Quem no olhar, não trouxesse lágrima vertente
Só conheci quem triste sofreu
Quanto maior o amor que viveu
Ama-se triste ou alegre
Quem te corresponde ou te renega
Ama-se, simplesmente
Amores que ficam ou se vão bruscamente
Não sei amar no singular, sem efeito
Não sei amar breve, de momento
Só sei amar plural, infinito, paralelo
Só sei amar azul, rosa e amarelo
E daí se tenho um amar bêbado, e irreal?
Amo o amor que sofre, padece
E daí se sofro e me torno igual
Ao poeta que morreu de amor, em prece?
Amor que vive junto, que casa, separa
Amor que é somente amigo
Que chora, que adoece e sara
Que mora, dorme e acorda comigo!
Um amor que ama até ficar tonto
Em si somente, puro e só
Que canta alto, em dó
Que ama, ama e pronto!
À um "até logo", já sobrevivi
Que não era logo, e dura até hoje
Que passou batido e eu não vi
Que sorriu eu não ri
Amo o amar que entorta a vida
Que não tem razão ou saída
Nem certo e errado
Nem triângulo, nem quadrado
Amor que espera o tempo que for
Outros vem, mas aquele fica, vira tatuagem
Que tem insônia, sente dor,
Mas que tem esperança, vive em devaneios de viagem
Já chorei ouvindo música antiga
Que me atire a primeira pedra, quem dessas não fez
Amo mesmo e não tem sentido
Não amar, e viver só, triste e descolorido
Reneguei e observei de longe
O amor que não pôde ser, que não coube
O inalcançável, inatingível
O impossível, inacessível
E de amor chorei, noites infindáveis
Indesculpavelmente triste por não TER
Intoleravelmente amargas noites memoráveis
Em que tínhamos um amor, só, sem SER
Nem toda noite deixo a triste peleja
O gosto doce de amar o amor, só
Contido que seja,
Do luar, ao pó
Sobrevivi também, às cartas rasgadas
Tive páginas de agendas rabiscadas
Renasci de amor, amando e morrendo
Em cada partida, mas morri nascendo
E não cabe assim um amor tão meu
Que não seja também, um dia tão seu
Que de mal, amar o amor não desiste
Se amar o amor é bem, e é só o que existe!