Ira

Não armes o fonema com punhal

nem com granizo.

A palavra que vibra feito lâmina

fere tanto quanto o gume

que imprime cicatriz.

As sílabas que apedrejam

a ternura

quebram o cristal do sonho

que se evade pelos olhos.

A palavra desferida

reverbera em ira e pedra,

se derrama em gelo e lava

sobre as pétalas do beijo.

Paralisa, asfixia

o impulso do abraço

e condena ao silêncio

o que a boca quer cantar.

A palavra enraivecida

arremessa temporais

sobre as tendas da esperança,

joga a fúria das tormentas

no oásis das quimeras

enquanto se desgasta

pelo ácido do ódio

que outrora foi amor.