Quando achei que me perdi

Quando achei que me perdi

Procurando a perfeição eu deslizava

Seja nas bordas imperfeitas do drama

Ou na indiferença mesquinha planava

Poucas vezes tive certeza, mas juro, tentava

Por vezes foi tanto fogo onde pediam fumaça

Queimei, fiz-me cinzas e poucos tossiam

Cheguei a apagar e pagar pelo estrago

Tanto fui maço, bituca e cigarro, larguei tudo, pirraça

Levei tudo ao êxtase e pus-me a disposição

Onde havia portas arrombei, dei uma de ladrão

Quando foram gelo sequei, doce eu lambi

Lembro com desterro do amargo, até de chocolate iludi

É que eu era menino e pouco sabia de intensidade

Pensava que importava o tamanho e não o aperto

Cansado de esticar minhas alegorias, encostei a vontade

E ainda relutante lacrimejei para reter meias verdades

Passeando em meio a nostalgia, vi com vergonha

Meus exageros, meus erros, cheguei ao absurdo

De ser pesado, atraquei onde nem tinha barco, fui âncora

E quando me dei conta, estava sozinho afundado

Até que um dia um marinheiro me contou

Que a boa brisa lhe soprou, os bons ventos anunciavam

Era um som diferente e repicava, o cheiro entranhava

Parecia festa, colorido, bexiga, levitou, explodiu

Carregando tudo aquilo que eu sentia, aprendi a ser

Ou não ser, aprendi a ir, voar, simplesmente passar

Agora eu me esgueirava entre lágrimas

Agora eu cabia onde sempre me faltava

E agora eu tinha sentido, não mais fardo

Andava pelo mundo com um certo pudor

Nu de fato, eu podia sentir cada sentimento

Deixei roçar a pele por um momento, queimar

Eu que nunca havia dado chance ao azar

Decidi andar na corda bamba, tropeçar

Mostrei que era destrambelhado, sorri

Finalmente eu pude me mostrar

Não que isso fosse sinal de atenção

Sentimento era tudo que importava

Decidi deixar de lado a razão, viver junto

Mostrou que estar certo era luxo

Pude enfim errar, e assim pedir perdão

Quantas vezes eu chorei e senti o sal

Cair para sentir o chão, conectar a terra

Ver fenecer do asfalto rosas de sangue

Vai ver que agora sem rodeio ou magia

Sem fantasia, exageros ou hamartias

Pude sentir o que desde o início queria

Acho que amei quando no fundo vivia

Não sei se foi quando não fui eu para entender

Vai ver que amei quando caí, ou levantei

Se quando ajoelhei e assenti, ou se quando ri

Amei e ainda não sei quando ou porque

Das poucas certezas que tenho

Uma é a de que não quero saber

Pois enquanto eu racionalizo, peso, atraco

Quando acho que amei eu apenas me entreguei,

Vivi, sorri, cai, chorei, tive saudade, corei, intensamente

Gabriel Melo 01/11/2015

Gabriel Melo Amorim
Enviado por Gabriel Melo Amorim em 01/11/2015
Código do texto: T5434800
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