***COMO SERÁ O AMANHÃ???***
De tudo restara só um medo inquietante
E um silêncio que parecia ensurdecedor,
Sangrando a dor de instante em instante
Desfalecendo aquela pobre alma de amor!
De tudo restou tão somente no meu desejo,
A vontade de que tivesse sido tudo diferente
No tempo tal qual a melodia de um realejo
As lágrimas caiam quase que intermitente!
Será que ele um dia ouviu falar ou conheceu um realejo?
Mas, sei que faz com que nossas escolhas sejam limitadas,
Nem se o verde periquito cantasse a feliz sorte que almejo
Na escolha e vontade, ainda assim não seriam consideradas!
Porém, e agora? Como será o amanhã?
Nem se eu soubesse, poderia responder,
Sou talvez a filha de uma sorte vil e órfã
Que nem pelo amor ao menos tua voz me
fez conhecer!
Irlene Chagas
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***Para uma melhor compreensão da poesia um breve texto sobre o realejo e suas atividades***
****Onde estão os realejos, que encantavam com seus sons os nossos antepassados? Hoje, os raros exemplares são objetos de museu e da cobiça saudável dos colecionadores. O realejo era conhecido na Europa, em especial na França e na Itália, e constituía uma adaptação simplificada do velho órgão grego do terceiro século antes de Cristo. Segundo informam os cronistas, os realejos foram trazidos para o Brasil por imigrantes italianos, espalhando-se nos primeiros anos do século XX pelas nossas principais cidades. O tirar de “sortes” por intermédio de periquitos, que com o bico retiravam um papelucho entre as dezenas que se encontravam numa caixa-arquivo, e mesmo a presença de símios de pires na mão a recolher espórtulas para o tocador de realejo (algumas vezes eram substituídos por meninas de semblante cansado) parecem ter sido uma invenção brasileira. Os realejos resistiram ante o impacto das vitrolas e gramofones até o fim da década de 30.***