O Céu do Amor
Não me peças o céu que não é meu.
Minhas mãos, por efêmeras,
são inúteis ao azul.
Sou apenas súdito dos deuses,
não possuo o poder que me atribuis.
Não exijas dos meus olhos embaçados
o brilho que não sei fazer luzir.
De tanto me ensinarem a ser humano
eu perdi o encanto de ser anjo,
desaprendi a magia do não ser.
Embora não detenha tais poderes,
os dotes divinais que em mim supões,
eu transito solitário sob estrelas
e convivo com rebanhos e rosais.
Sei as frases que a maré compõe na areia
sob o signo lunar das quatro fases.
Sofro o pânico dos sinos nas tormentas
e tenho crises de ternura musical.
Não me peças o céu que não é meu.
Eu não posso te dar o céu dos deuses.
O amor é o que acontece quando a gente
consegue inventar o próprio céu.