Antiofídico

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera”

porém, espera não sofrer, acima de tudo;

se, que lhe restou difere, do que quisera,

não são as flores que fazem a primavera,

têm relação, como aprendizado e estudo;

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera”

acredita o impossível acossado pelo anseio;

não foi ele que deu ocasião à Bela e a Fera,

onde, essência interna à tola visão supera,

num sentir tão belo que suplantaria ao feio;

“O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera”

nada menos, espera, que correspondência;

no afã de ter tal joia aduba tanta quimera,

e pega-se, ao anelo como ao muro a hera,

duvidando dos fatos, arrosta até evidência;

“O amor tudo sofre, tudo crê, todo espera”

porque crê espera, e porque espera, sofre;

torna complexidade da vida em coisa mera,

alinha as curvas, e dá vida agitada à tapera,

forja devaneios como poeta forja a estrofe;

ele é o enredo base de qualquer uma obra,

pode ser até, módico, jamais será pequeno;

imenso, se falta, apenas pleno quando sobra,

soro contra o veneno da solidão essa cobra,

fundido ao sangue, detém o próprio veneno...