Inteligível

Num dia qualquer quando eu estava ali, sentado, calado, fazendo não sei o que, eis que apareceu ela, tão insolicitadamente, mas estava ali. Tão bela, tão meiga, tão doce, tão virtuosa, tão exalante, tão interessante, tão radiante, tão perfeita, tão tão ... E eu ali, tão sujo, tão imundo, cheirando a vícios, tão não!

Estávamos nós dois ali, ela no meio dos pinhais acompanhada das flores e de tudo de bom quanto possa fazer companhia; e eu com um punhado de pecados numa mão, e na parceria dos cães.

Ela escutava música erudita, tocava violino e clarinete, sabia até fazer falsete; e eu desajeitado, meio enrolado, arriscava fazer um Dó.

Ela era um sonho tão ideal, tanto que os poetas vinham a seus pés fazer os mais belos versos para as melhores poesias; e eu tinha uma bicicleta vermelha a quem fazia companhia.

Estava ela ali tão, tão ... inteligível; e eu não, não! ... sabia se poderia tê-la em meu jardim. Mas de repente ela simplesmente sorriu pra mim, e eu tão indiferente não demonstrava que a queria no fim.

Estava ela ali, na minha roupa, em meus pensamentos, na minha pele, no meu sorriso, no meu final, e numa rosa que eu guardava num caderno velho para lhe dar.

É Somente no devaneio dos sonhos que ...