O AMOR SEM DISTÂNCIA
Sou esta luz que alimenta insetos
Sou esta dor débâcle que aborta os fetos
Quero-a de volta no meu sonho tangível
Sou este sereno que as nuvens esconde
A quero como a sombra risível
Que da luz quer a penumbra
Quero ver-te e rever-te
Até me reverter-me em teu beijo
Como o desejoso mar quer a borbulhante escuma...
Suma por dentro de mim como única amante
E nunca me perderei de ti como um espumante
Sem você represento um ser
Algo como uma capa que mostra uma efêmera atriz
Uma casca de ferida atuando sem o casulo da cicatriz
Te amo tanto que já não me pertenço
Que de tanto te amar sem pantomimas
Remei no teu pranto de rimas
Para não morrer nos teus olhos de fundo infinito
De tanto navegar nas caravelas de tuas lágrimas...
É noite e Deus já vem telhando
Nosso céu de estrelas
Seu beijo é uma hóstia de lua cheia
Vem que a saudade me corre as veias
Como escarlate sangue que fervilha de desejo
No vinho de teus lábios faço um brinde com teu beijo
Somos feitos um para o outro
Como goiabada e queijo
Teu corpo é minha guarida
Pelas curvas exoesqueléticas do destino
Onde quer que eu me encontre
Estou sempre voltando ao ponto de partida
Porque sem você no meu mundo
Sou abismo profundo
Meu tempo pertence somente a você
E simplesmente não existe vida neste ser
Sou este sol sem amanhecer
No fundo inexorável do teu "me esquecer".