A MENINA QUE APRENDEU A LER TODOS OS LIVROS DO MUNDO
Desde que começou a andar ela teve que acompanhar a mãe até o lixão onde catava materiais para vender aos recicladores. Como nem caminhar sabia direito, a mãe a deixava sobre um velho sofá no qual dera uma limpada meio por cima e colocara sob uma amoreira que havia sobrevivido às escavadeiras que prepararam o terreno para aquela finalidade. Aos poucos ela foi se ambientando e começando a aventurar-se pelo meio do lixo. Como um bêbado ia, caindo aqui e levantando ali, aprendendo a catar. Só que os objetos e objetivos da sua catação eram diferentes dos da Mãe: ela procurava algo com que pudesse brincar. Já tinha o seu pequeno tesouro escondido no forro do sofá. Eram uma cabeça da “Susi”; um nariz de palhacinho e uma perna de plástico sem identificação, toda amassada, provavelmente em terrível acidente provocado por algum menino malvado para vingar-se da irmã. Naquele dia ela estava tentando recuperar uma coxa afundada que não conseguia puxar para fora com a ponta de um clips enferrujado. Além desses membros e partes de órgãos humanos representados, o que mais tinha recolhido eram pedaços de revistas em quadrinho e de livros. Já tinha uma pilha de capítulos, muitos dos quais deixara secando ao sol para não perder nenhuma folha que fosse. Certo dia no horário do almoço sua Mãe inventou de pegar uma de suas folhas para iniciar o fogo-de-chão e aquecer a panelinha de feijão com arroz que levavam diariamente. Ela arrependeu-se amargamente por ter feito aquilo. A menina desatou num choro que não havia consolo que a fizesse parar. Depois que finalmente acalmou-se, falou que ela era “a professora” e ninguém poderia queimar os livros dela, porque senão ela não poderia mais ensinar às outras crianças a rezar com as letrinhas.
A rotina era a mesma de todos os dias. À noite jantavam o mesmo feijãozinho com arroz e alguns pedacinhos de osso de porco que disputavam com os cachorros que ficavam esperando, à frente do único açougue da vila, o açougueiro liberar. Após a janta iam as duas acomodarem-se sobre o colchão que fora jogado fora juntos com mais uns vinte, pelo dono de um motel que havia à margem da estrada principal que reformaram. Deitadas sobre aquele lixão do amor, que era um verdadeiro cemitério dos filhos que morrem nos motéis, sem nascerem, em nome do amor, como é natural e razão de brotarem aos milhões: para que os amantes aprendam a valorizar o amor através dos seus sacrifícios. Isto lembra a história que não existe de um menino indiano que se masturbava somente dentro da água para oferecer aos espermatozóides uma possibilidade de salvação: nadarem até encontrar alguma banhista em período fértil e infiltrarem-se nela à procura de uma amante ovulada. Justa preocupação de uma adolescência milenar.
Elas dormiam abraçadinhas as duas. Para espantar os mosquitos era queimado esterco de vacas, em uma fogareiro de brasas, recolhido na volta do trabalho, na beira da cerca de um tambo de leite que pertencia ao mesmo dono do açougue. Dizem que foi deste inseticida natural que surgiu o famoso “boa-noite”. A miséria era tanta que até para acordar eram despertadas por canto emprestado do galo do vizinho. Mas não havia queixas. Elas estando juntas uma da outra nada mais era problema. Apesar da pobreza a menininha era muito bem cuidada. Sempre era banhada bem direitinho, o cabelinho bem penteadinho e amarradinho com piranhas coloridas novinhas, os dentinhos escovados com esmero, unhas limpas, sempre bem calçadinha, enfim, era otimamente cuidada. Do que sobrava dos gastos com os diários feijão, arroz, e dos ingredientes dos pães que ela mesma fazia – o leite e os ovos eram ganhos do dono do tambo, que era o mesmo do açougue -, ia tudo para comprar as coisinhas da menina. Para ela nada. Das suas roupas adultas e idosas a maior parte era ganha ou achada no lixo, lavada e reformada por ela.
Certo dia a Mãe perguntou à menininha sobre as razões pelas quais não parava de ficar juntando pedaços e livros inteiros, pois já havia quatro caixas cheias daquilo. Então, toda faceira saiu rodopiando até sentar-se sobre a caixa bem de cima e, batendo ritmada e simultaneamente com as duas mãozinhas e os calcanhares na caixa, disse que era porque ela ainda iria aprender a ler todos os livros do mundo. A pobre da Catadora a olhou com ternura e disse que ela estava certa e que daquele dia em diante iria ajudá-la a juntar livros também. Quase caíram com o pulo que ela deu no pescoço da Mãe para abraçá-la. A Catadora também acreditava que ela conseguiria, demonstrando que a sabedoria e os valores mais caros, como a solidariedade são mais fáceis de serem encontrados no meio do lixão humano.
Os anos foram passando e chegou a hora de ir para a Escola. A Mãe agora já havia trocado a catação por uma vaga no minimercado. Ela era encarregada dos hortifrutigranjeiros e da higienização. A Menina já estava com sete anos completos. Não havia freqüentado o jardim de infância porque não havia naquelas redondezas. Andava sempre grudada na mãe e pedindo livros para todo mundo que encontrava. Muitos até já levavam até a casinha delas, que a mulher do patrão mandara construir de alvenaria, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Apesar dos dois quartos elas continuavam dormindo juntas. A televisão havia chegado. De segunda mão, porém muito boa. O outro quarto era utilizado só para guardar suas folhas e livros, tudo organizadinho, bem empilhados. Era ali que ela passava quase todo o restante do tempo em que estava em casa. Entre aquelas pilhas de livros que nem havia aprendido a ler ainda e que folhava atentamente, brincando de ler.
No primeiro dia de aulas a Professora perguntou se alguém sabia das razões pelas quais uma pessoa ia a Escola. Não houve nem tempo de outro esboçar qualquer resposta e ela, ficando em pé com o braço erguido, respondeu que sabia por que estava lá. Afirmou categoricamente que lá estava para aprender a ler todos os livros do mundo. Do primeiro ano do primário até o quarto foi um triz. Passava de ano rindo. Naquela época ainda existia o exame de admissão ao ginásio que era prestado como uma espécie de vestibular para entrar para a próxima fase. Estamos melhorando, hoje a sacanagem é bem mais adiante e já agoniza. Esse tal de exame de admissão oferecia uma oportunidade para os alunos do quarto ano “pularem” o quinto e passarem diretamente do quarto para a primeira série do ginásio, se passassem. Claro que ela passou, sem o mínimo esforço.Nestas alturas ela já havia lido uma boa parte dos livros do mundo. Pelo menos o seu “quarto-folhoteca” já estava agora só com livros inteiros, todos ordenados por assunto em uma estante que a Mãe comprara em vinte e quatro vezes.
Vestibular? Mas que vestibular? Ela nem viu. Passou como um relâmpago. Muitos e muitos livros depois ela estava formada em Letras e Filosofia, tudo financiado pelos braços catadores de sobrevivência. Através de merecida bolsa de estudas aperfeiçou-se na França. Quando retornou trouxe todos os títulos possíveis nessas duas áreas do conhecimento. A Cabeça de sua Mãe quando chegou em casa com a mala cheia de diplomas escritos em francês – que a mãe analfabeta só percebia o valor pelas filigranas e cores, pois estivessem em que língua fosse, não conseguiria ler, mas o valor deles ela reconhecia nos orgulhosos olhos da filha que fitavam os dois pequenos mares transbordando daquele coração tão bom que a conservara com saúde para ver a perseverança triunfar – e a cabeça cheia de Conhecimento.
Não faltaram ofertas de empregos nas mais diversas Universidades do país. O critério de que se utilizou para escolher onde trabalharia foi o de qual contava com a biblioteca mais completa, porque o trabalho era só desculpa para ficar entre os livros que ainda não havia lido. Desde que apanhou a primeira folha naquele lixão decidiu que aprenderia a ler todos os livros do mundo. E aprendeu. Lá naquele primeiro ano do primário, com aquela mesma Heroína que a alfabetizou e preparou para ler todos os livros do mundo. Como as tantas e tantas que nos ensinam os primeiros passos para as grandes caminhadas da vida, e ficam esquecidas, lá na ponta da estrada, também fazendo parte do imenso lixão humano aonde vamos depositando muitas e muitas pessoas de valor, que precisam ser recuperadas, intactas, sem a necessidade de reciclagem alguma, porque já são perfeitas. Essas são pedras fundamentais nos alicerces de nossas vidas e quando as descartamos da memória, dá-se a gravidez da ruína das nossas Felicidades, porque substituímos o que tem valor pelos dejetos novinhos em folha que o lixão do consumismo nos obriga a trabalhar muito para catar, diferentes da Mãe desta história que ao levar a sua filhinha sempre com ela, para aquele ambiente insalubre, preferimos abandonar nossos filhos e os entregamos, de bandeja, ao mal, porque hoje necessitamos dedicar todos nossos tempos só para a tarefa de reunir recursos para manter o ano do carro atualizado e catar os vestidos de cinco mil dólares.
Todos aqueles que tiveram a paciência de ler este texto e formaram a imagem mental de uma Mãe negra se sacrificando para dar o melhor para sua filhinha também Negra, que me desculpem pela verdade: precisam visitar os seus interiores e retirar de lá o mal que é a causa de milhões de histórias como esta, porém, verídicas, de violência contra o Ser humano: a Dicriminação. Posso afirmar isto com certeza porque em momento algum deste relato eu fiz a menor menção à cor da pele dos meus personagens. É por isto, meus queridos Amigos, que há milhões, eu disse: Milhões, de crianças e adultos de todas as cores sofrendo desnecessariamente neste Planeta. Tudo por culpa de nossas malignas imagens mentais, que teimam em manter padrões ultrapassados que rebaixam os Seres Humanos a categorias inferiores simplesmente porque respondem diferentemente à reflexão da luz ou por que têm suas próprias formas preferidas de amar. Destes eu me nego a citar as denominações porque acredito que não deveriam existir diversas classificações para o mesmo Amar, pois Amar é Amar e Amor é Amor, não interessa se é homem amando homem ou mulher amando mulher ou os dois amando aos dois; ou um Jovem amando a uma Mulher de mais idade ou vice-versa . O que interessa é que Amam e merecem o direito inalienável ao Amor. Os que merecem o nosso desmerecimento e abominação são os que não Amam e detestam a Paz. A discriminação existe é para isto: para ser aplicada contra os que são contra a convivência amorosa e pacífica. Esses merecem e precisam ser “bem” discriminados, apontados e apartados de nós.
Desde que começou a andar ela teve que acompanhar a mãe até o lixão onde catava materiais para vender aos recicladores. Como nem caminhar sabia direito, a mãe a deixava sobre um velho sofá no qual dera uma limpada meio por cima e colocara sob uma amoreira que havia sobrevivido às escavadeiras que prepararam o terreno para aquela finalidade. Aos poucos ela foi se ambientando e começando a aventurar-se pelo meio do lixo. Como um bêbado ia, caindo aqui e levantando ali, aprendendo a catar. Só que os objetos e objetivos da sua catação eram diferentes dos da Mãe: ela procurava algo com que pudesse brincar. Já tinha o seu pequeno tesouro escondido no forro do sofá. Eram uma cabeça da “Susi”; um nariz de palhacinho e uma perna de plástico sem identificação, toda amassada, provavelmente em terrível acidente provocado por algum menino malvado para vingar-se da irmã. Naquele dia ela estava tentando recuperar uma coxa afundada que não conseguia puxar para fora com a ponta de um clips enferrujado. Além desses membros e partes de órgãos humanos representados, o que mais tinha recolhido eram pedaços de revistas em quadrinho e de livros. Já tinha uma pilha de capítulos, muitos dos quais deixara secando ao sol para não perder nenhuma folha que fosse. Certo dia no horário do almoço sua Mãe inventou de pegar uma de suas folhas para iniciar o fogo-de-chão e aquecer a panelinha de feijão com arroz que levavam diariamente. Ela arrependeu-se amargamente por ter feito aquilo. A menina desatou num choro que não havia consolo que a fizesse parar. Depois que finalmente acalmou-se, falou que ela era “a professora” e ninguém poderia queimar os livros dela, porque senão ela não poderia mais ensinar às outras crianças a rezar com as letrinhas.
A rotina era a mesma de todos os dias. À noite jantavam o mesmo feijãozinho com arroz e alguns pedacinhos de osso de porco que disputavam com os cachorros que ficavam esperando, à frente do único açougue da vila, o açougueiro liberar. Após a janta iam as duas acomodarem-se sobre o colchão que fora jogado fora juntos com mais uns vinte, pelo dono de um motel que havia à margem da estrada principal que reformaram. Deitadas sobre aquele lixão do amor, que era um verdadeiro cemitério dos filhos que morrem nos motéis, sem nascerem, em nome do amor, como é natural e razão de brotarem aos milhões: para que os amantes aprendam a valorizar o amor através dos seus sacrifícios. Isto lembra a história que não existe de um menino indiano que se masturbava somente dentro da água para oferecer aos espermatozóides uma possibilidade de salvação: nadarem até encontrar alguma banhista em período fértil e infiltrarem-se nela à procura de uma amante ovulada. Justa preocupação de uma adolescência milenar.
Elas dormiam abraçadinhas as duas. Para espantar os mosquitos era queimado esterco de vacas, em uma fogareiro de brasas, recolhido na volta do trabalho, na beira da cerca de um tambo de leite que pertencia ao mesmo dono do açougue. Dizem que foi deste inseticida natural que surgiu o famoso “boa-noite”. A miséria era tanta que até para acordar eram despertadas por canto emprestado do galo do vizinho. Mas não havia queixas. Elas estando juntas uma da outra nada mais era problema. Apesar da pobreza a menininha era muito bem cuidada. Sempre era banhada bem direitinho, o cabelinho bem penteadinho e amarradinho com piranhas coloridas novinhas, os dentinhos escovados com esmero, unhas limpas, sempre bem calçadinha, enfim, era otimamente cuidada. Do que sobrava dos gastos com os diários feijão, arroz, e dos ingredientes dos pães que ela mesma fazia – o leite e os ovos eram ganhos do dono do tambo, que era o mesmo do açougue -, ia tudo para comprar as coisinhas da menina. Para ela nada. Das suas roupas adultas e idosas a maior parte era ganha ou achada no lixo, lavada e reformada por ela.
Certo dia a Mãe perguntou à menininha sobre as razões pelas quais não parava de ficar juntando pedaços e livros inteiros, pois já havia quatro caixas cheias daquilo. Então, toda faceira saiu rodopiando até sentar-se sobre a caixa bem de cima e, batendo ritmada e simultaneamente com as duas mãozinhas e os calcanhares na caixa, disse que era porque ela ainda iria aprender a ler todos os livros do mundo. A pobre da Catadora a olhou com ternura e disse que ela estava certa e que daquele dia em diante iria ajudá-la a juntar livros também. Quase caíram com o pulo que ela deu no pescoço da Mãe para abraçá-la. A Catadora também acreditava que ela conseguiria, demonstrando que a sabedoria e os valores mais caros, como a solidariedade são mais fáceis de serem encontrados no meio do lixão humano.
Os anos foram passando e chegou a hora de ir para a Escola. A Mãe agora já havia trocado a catação por uma vaga no minimercado. Ela era encarregada dos hortifrutigranjeiros e da higienização. A Menina já estava com sete anos completos. Não havia freqüentado o jardim de infância porque não havia naquelas redondezas. Andava sempre grudada na mãe e pedindo livros para todo mundo que encontrava. Muitos até já levavam até a casinha delas, que a mulher do patrão mandara construir de alvenaria, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Apesar dos dois quartos elas continuavam dormindo juntas. A televisão havia chegado. De segunda mão, porém muito boa. O outro quarto era utilizado só para guardar suas folhas e livros, tudo organizadinho, bem empilhados. Era ali que ela passava quase todo o restante do tempo em que estava em casa. Entre aquelas pilhas de livros que nem havia aprendido a ler ainda e que folhava atentamente, brincando de ler.
No primeiro dia de aulas a Professora perguntou se alguém sabia das razões pelas quais uma pessoa ia a Escola. Não houve nem tempo de outro esboçar qualquer resposta e ela, ficando em pé com o braço erguido, respondeu que sabia por que estava lá. Afirmou categoricamente que lá estava para aprender a ler todos os livros do mundo. Do primeiro ano do primário até o quarto foi um triz. Passava de ano rindo. Naquela época ainda existia o exame de admissão ao ginásio que era prestado como uma espécie de vestibular para entrar para a próxima fase. Estamos melhorando, hoje a sacanagem é bem mais adiante e já agoniza. Esse tal de exame de admissão oferecia uma oportunidade para os alunos do quarto ano “pularem” o quinto e passarem diretamente do quarto para a primeira série do ginásio, se passassem. Claro que ela passou, sem o mínimo esforço.Nestas alturas ela já havia lido uma boa parte dos livros do mundo. Pelo menos o seu “quarto-folhoteca” já estava agora só com livros inteiros, todos ordenados por assunto em uma estante que a Mãe comprara em vinte e quatro vezes.
Vestibular? Mas que vestibular? Ela nem viu. Passou como um relâmpago. Muitos e muitos livros depois ela estava formada em Letras e Filosofia, tudo financiado pelos braços catadores de sobrevivência. Através de merecida bolsa de estudas aperfeiçou-se na França. Quando retornou trouxe todos os títulos possíveis nessas duas áreas do conhecimento. A Cabeça de sua Mãe quando chegou em casa com a mala cheia de diplomas escritos em francês – que a mãe analfabeta só percebia o valor pelas filigranas e cores, pois estivessem em que língua fosse, não conseguiria ler, mas o valor deles ela reconhecia nos orgulhosos olhos da filha que fitavam os dois pequenos mares transbordando daquele coração tão bom que a conservara com saúde para ver a perseverança triunfar – e a cabeça cheia de Conhecimento.
Não faltaram ofertas de empregos nas mais diversas Universidades do país. O critério de que se utilizou para escolher onde trabalharia foi o de qual contava com a biblioteca mais completa, porque o trabalho era só desculpa para ficar entre os livros que ainda não havia lido. Desde que apanhou a primeira folha naquele lixão decidiu que aprenderia a ler todos os livros do mundo. E aprendeu. Lá naquele primeiro ano do primário, com aquela mesma Heroína que a alfabetizou e preparou para ler todos os livros do mundo. Como as tantas e tantas que nos ensinam os primeiros passos para as grandes caminhadas da vida, e ficam esquecidas, lá na ponta da estrada, também fazendo parte do imenso lixão humano aonde vamos depositando muitas e muitas pessoas de valor, que precisam ser recuperadas, intactas, sem a necessidade de reciclagem alguma, porque já são perfeitas. Essas são pedras fundamentais nos alicerces de nossas vidas e quando as descartamos da memória, dá-se a gravidez da ruína das nossas Felicidades, porque substituímos o que tem valor pelos dejetos novinhos em folha que o lixão do consumismo nos obriga a trabalhar muito para catar, diferentes da Mãe desta história que ao levar a sua filhinha sempre com ela, para aquele ambiente insalubre, preferimos abandonar nossos filhos e os entregamos, de bandeja, ao mal, porque hoje necessitamos dedicar todos nossos tempos só para a tarefa de reunir recursos para manter o ano do carro atualizado e catar os vestidos de cinco mil dólares.
Todos aqueles que tiveram a paciência de ler este texto e formaram a imagem mental de uma Mãe negra se sacrificando para dar o melhor para sua filhinha também Negra, que me desculpem pela verdade: precisam visitar os seus interiores e retirar de lá o mal que é a causa de milhões de histórias como esta, porém, verídicas, de violência contra o Ser humano: a Dicriminação. Posso afirmar isto com certeza porque em momento algum deste relato eu fiz a menor menção à cor da pele dos meus personagens. É por isto, meus queridos Amigos, que há milhões, eu disse: Milhões, de crianças e adultos de todas as cores sofrendo desnecessariamente neste Planeta. Tudo por culpa de nossas malignas imagens mentais, que teimam em manter padrões ultrapassados que rebaixam os Seres Humanos a categorias inferiores simplesmente porque respondem diferentemente à reflexão da luz ou por que têm suas próprias formas preferidas de amar. Destes eu me nego a citar as denominações porque acredito que não deveriam existir diversas classificações para o mesmo Amar, pois Amar é Amar e Amor é Amor, não interessa se é homem amando homem ou mulher amando mulher ou os dois amando aos dois; ou um Jovem amando a uma Mulher de mais idade ou vice-versa . O que interessa é que Amam e merecem o direito inalienável ao Amor. Os que merecem o nosso desmerecimento e abominação são os que não Amam e detestam a Paz. A discriminação existe é para isto: para ser aplicada contra os que são contra a convivência amorosa e pacífica. Esses merecem e precisam ser “bem” discriminados, apontados e apartados de nós.