Reencontro

Ele:

Viestes aqui para sentir minha dor,

queres agora a parte que te cabes na vingança,

torturar aquele que outrora te magoou,

fazendo justiça no silêncio de um sorriso,

triunfando no brilho do sol que não me ilumina?

Ela:

Jamais teria lucro com qualquer sofrimento,

tudo o que desejo são as respostas nunca dadas,

ver teus olhos de perto e perguntar o por quê?

algum dia será que me amastes de verdade,

ou tudo não passou de palavras disformes?

Ele:

Qualquer coisa que eu te digas agora não terá valor,

será por ti tomada como mais uma mentira,

um conto inventado de um farsante enjaulado,

para tentar talvez redimir-se a si mesmo,

na ilusão de crer que era belo o caos que causou...

Ela:

Então simplesmente renda-te a mim,

mostre quem és de verdade por trás destas máscaras,

deixe exposta a face que ocultastes todo esse tempo,

agindo como um fantasma de uma ópera falida,

perdido em labirintos que só te tornaram mais solitário...

Ele:

Já estou rendido há dias e noites sem fim,

aguardando que a morte me conceda o término da agonia,

extirpando esta culpa que me corrói a cada respiração,

sabendo não merecer de ti nenhum perdão,

tolo que fui ao envolver-me na vilania dessa conspiração...

Ela:

Não desvies do caminho à tua frente,

estou batendo à tua porta, esperando que te abras,

precisando saber quais sentimentos tivestes por mim,

tentando pacificar minha raiva por teres partido sem um adeus,

esperando desvelar o âmago de teu ser por completo...

Ele:

Eu sempre te amei, mesmo quando não demonstrei,

senti tanto medo de me ver preso naquela rede de ternura,

debati-me como um peixe-espada em desespero,

buscando um motivo que me impedisse de ficar,

para não ter que compartilhar minhas cicatrizes...

Ela:

Já rompemos todos os paradigmas sociais,

não devemos nada aos estranhos que nos observam,

se quiseres, podemos tentar agora à luz da verdade,

sem dissimulações, enganos ou ressentimentos,

pois jamais deixei de te amar, mesmo quando te odiei...