Torpe
Quem é você?
Que me olha de frente, sem desvios.
Quem é você?
Que sorri com todos dentes, meu desafio.
Quem é você?
Sem medo do meu lado obscuro.
Sem me conhecer
Já sabe de mim o todo do tudo.
De onde vem
O amor é simples como deve ser?
O que te faz crer
Que uma noite é o que nos convém?
Eu sou o mistério que você não tem
Descortinado pelo vigor de um sol a pino.
Eu sou o anátema de uma fábula infame
Esvoaçado como me permito e sinto.
Eu quero ser um eu sem preocupação.
Tanta clareza ofusca e se torna dúvida.
Não quero que a circunstância me engane,
Eu tenho um nome, estou insone,
Minha fome é súbita,
Mas não vou comer na sua mão.
Sorve meus fluidos sem parcimônia.
Vampiriza meus dons em rituais.
Confunde minha percepção...
Como não?!
...
Quantos sussurros e ais
Me distanciam do meu eixo?
Quantas violentas catarses
Desvelam paz e silêncio e êxtase?
Minha fome me exige,
Mas comer na sua mão, jamais!
...
Já não tenso.
Já não penso.
Já te quero mais
Quando se despede e vai.
Entorpeço
Além...
Aquém de mim.
E assim, o que dizer?
"Vai tarde"