REINANDO NA NOITE
Como permanecer inerte quando a tua aparição
desloca o eixo dos perfis e petrifica heróis mitológicos?
Por entre areias escaldantes e chamas místicas
avancei no cavalo alado sobre demônios e delírios, apenas
pra te ver atravessar as ruas que contigo ficam
repletas de beleza, e não ser visto, pois como pode
um homem fazer parte do teu mundo cuja perfeição
submete-o à condição de réptil?
Como não te querer, irreal de tão soberba, coberta
pelos véus negros que te fazem estrela reinando
na noite, se o desejo mais do que uma espada encantada
é uma pedra que se empurra ladeira acima?
A lógica perde o sentido, pois ao ver-te
invulnerável na delicadeza de odalisca materializada pela lenda,
o homem desce do cavalo submisso ao teu olhar de anoitecer
no mar, e deposita entre a algibeira e a bússola, o rude
da masculinidade, p'ra da tua imagem refletida n'água,
colher a flor de um novo império